falta ar pra dar conta de tudo o que se vê
de tudo o que se sente
o agora
nem sempre presente
seguimos em fluxo
nele o por vir se apresenta
com o que você se contenta?
falta ar pra dar conta de tudo o que se vê
de tudo o que se sente
o agora
nem sempre presente
seguimos em fluxo
nele o por vir se apresenta
com o que você se contenta?
do mar de dentro pro mar de fora.
não havia solo pra ti,
seguir nas águas foi a certeza do que seria melhor.
você nos quis,
eu te quis,
não era possível.
não foi fácil,
foi necessário.
interromper para seguir.
eu nasci branca,
branca, clara.
não alva,
nunca alvo.
não pela pele ou traços.
eu nasci branca.
para um país racista,
sou privilegada.
não quero ser preta.
não consigo me pensar
a branca mais preta do brasil,
como já andaram fazendo por aí.
eu nasci branca.
sei o que é ter privilégio.
levar vantagem sobre corpos outros
é o que a cor da minha pele e meus traços permitem.
dou nome a ele,
para que não esqueça
que ser branca é sinônimo de ter privilégio.
precisamos quebrar essa pacto subjetivo
da manutenção de privilégios.
porque eu nasci branca e eu quero que pretos
saibam o que é circular sem medo.
Futuro, querido futuro,
Hoje é o presente de um passado em que vc parecia distante. Você chegou. E eu quero chegar em você, olhar pra trás e lembrar desses dias em que pouco acreditei. Num frio, com entregas que não caminhavam e num futuro próximo vão me enlouquecer. Te quero.
então é isso?
eu cá,
tu lá.
a nossa
é minha.
então é isso?
ser pai é ser caixa?
é dinheiro,
é banco,
é assim um mês após o outro?
o dinheiro,
o pouco,
o afeto,
a migalha,
o prover,
cadê?
o ser junto,
ilusão.
você não é pai.
ser pai não é doar gene.
ser pai não é prover
- mesmo que você fizesse isso.
seu pagamento não paga
as noites mal dormidas,
as aulas interrompidas,
os choros incansáveis,
as roupas com frequência lavadas,
a comida diária,
as corridas dos dias,
o esforço de sonhar,
a luta de realizar.
seu dinheiro não paga minha terapia,
não paga meus artigos não escritos,
não paga sequer a educação da sua filha.
você não é pai,
e está tudo bem pra você.
eu sou mãe sem pai,
e não está tudo bem pra mim.
a dureza de
estar lá,
e a beleza
na memória.
o desejo
dos mistérios desvendar.
um povo de
sorriso na cara,
alegria
exuberante.
e uma ilusão:
a língua
nos aproximaria, uniria.
os poderes
hegemônicos,
o pensar
colonizado,
Quarto, quadrado, duas duplas, dois homens, duas mulheres. Duas mães, uma pai. Um pai?
Quatro filhos de um mesmo progenitor. Quarteto marcado pela mesma ausência. Inúmeras as explicações, única a cicatriz. Como lidar com ela é o que os diferencia. Mas afinal, como lidar com a dor presente da ausência?
Há de não ser radical este caminho, há de não ser complacente. Há de se ter compaixão. Certamente o caminho mais sábio. Acumular rancor? Estou fora, completamente! Mas não se pode esquecer do mau uso feito dos filhos. O uso dos filhos para conseguir o que se quer. Abuso. Não se usa criança para isso.
Mas um pai amoroso, também, além.