04/12/2022

nasci branca

eu nasci branca,

branca, clara.

não alva,

nunca alvo.

não pela pele ou traços.


eu nasci branca.

para um país racista,

sou privilegada.

não quero ser preta.

não consigo me pensar

a branca mais preta do brasil,

como já andaram fazendo por aí.


eu nasci branca.

e isso não quer dizer que não me identifique

com a cultura ancestral que resiste nas veias,

no músculo que o sangue bombeia.

não quero ser preta,

porque não sou preta.

não sei e nunca saberei.


porque nasci branca.

numa família em que a história

foi contada por quem colonizou.

por quem executou, 

pelas mãos que autorizam

que o genocídio siga em curso.


eu nasci branca.

sei o que é ter privilégio.

levar vantagem sobre corpos outros

é o que a cor da minha pele e meus traços permitem.

dou nome a ele,

para que não esqueça

que ser branca é sinônimo de ter privilégio.


precisamos quebrar essa pacto subjetivo

da manutenção de privilégios.

porque eu nasci branca e eu quero que pretos 

saibam o que é circular sem medo.




14/06/2022

 e sem que se perceba aquele nada vira muito, cresce de uma forma que não se sabe muito bem pra onde, e a gente segue no fluxo da vida, na dança que se faz presente. 


presente.

07/06/2022

eu gosto do cotidiano, 

das pequenas belezas que nos cercam e precisam dos olhos atentos.


olhos, 

ouvidos, 

tato,

paladar:

portas do sentir,


sentir, pra mim, é o que dá sentido.


eu gosto das portas abertas.


11/01/2022

Carta para o futuro

Futuro, querido futuro,

Hoje é o presente de um passado em que vc parecia distante. Você chegou. E eu quero chegar em você, olhar pra trás e lembrar desses dias em que pouco acreditei. Num frio, com entregas que não caminhavam e num futuro próximo vão me enlouquecer. Te quero.


 a escrita adormeceu porque a vida adoeceu


os tempos pediram

espaço

ex-passo

estático caminho

estético 

ex-ético


escrita adormece

ao passo em que  (dar conta da) vida prática adoece



13/06/2021

uma menina

mulher,

mãe,

senhora.

caminho se faz no caminhar

deus me proteja de mim.

uma mulher,

menina,

mãe,

senhora.


27/11/2020

mãe solo

então é isso?

eu cá, 

tu lá.

a nossa 

é minha.


então é isso?

ser pai é ser caixa?

é dinheiro,

é banco,

é assim um mês após o outro?

o dinheiro, 

o pouco, 

o afeto, 

a migalha,

o prover,

cadê?

o ser junto,

ilusão.


você não é pai.

ser pai não é doar gene.

ser pai não é prover 

- mesmo que você fizesse isso.

seu pagamento não paga

as noites mal dormidas,

as aulas interrompidas,

os choros incansáveis,

as roupas com frequência lavadas,

a comida diária,

as corridas dos dias,

o esforço de sonhar,

a luta de realizar.


seu dinheiro não paga minha terapia,

não paga meus artigos não escritos,

não paga sequer a educação da sua filha.


você não é pai,

e está tudo bem pra você.

eu sou mãe sem pai,                                                

e não está tudo bem pra mim.



20/05/2020

memória de uma aventura

deliciosa e inesperada aventura. inesperada por não se estar inteira de corpo físico e, talvez, por um pouco de alma incompleta também (mas em que momento se está inteira, a não ser naquele lindésimo de segundo - e utilizo o termo com a licença de meu bigodudo favorito - em que se observa uma folha caindo tão suavemente rodopiante da aparente árvore intacta? ou naquele mínimo instante em que uma borboleta saltita no ar enquanto carros cruzam a tumultuada avenida almirante barroso, em meio ao caos do centro da cidade?). o fato é que foi. na companhia de parceiras pra vida, foi. fomos seis os elementos. fieis e companheiros pelos quatro dias lá no cerrado amado, lá no meu lugar, lá no lugar da vida e de todos nós. deliciosa pela vida, pela contínua inspiração e pelo sol companheiro. iniciada numa quinta de reencontro, de chuva, de cadeira móvel, ladeira, dois embarques, dois desembarques, céu azul, frio. quinta de vida e de alegria - sobretudo na chegada. nhoque sem sal e vinho gostoso. a sexta de alegria, poeira, cerveja, caipiroska, passagem de som, quartzo rosa = amor incondicional. primeira prova do cravo e canela, que continua lembrando que um presunto não é um presunto, mas uma vida.
tudo confuso aqui dentro.
roupas, sapatos, pensamentos
espalhados,
tudo.
reflete a falta.
do que?
daquela que fui,
da que serei.
meu tempo é hoje?
meu tempo é de pé esquerdo.
ô membrinho porreta!
guênta o tranco, incha um pouco,
segura o peso do mundo.

quando sentimentos, sono, angústias, saudade - ou saudosismo? -viram um dia branco, anuviado.
viver sem tentar entender é simples.
só caminhar, como dizem.
toca estado de poesia.
onde foi parar a minha?
olheiras crescem a cada dia.
cabelos também.
e caem, estou ficando careca.
estou ficando velha.
caroços crescem dentro do peito.
viver continua sendo lindo neste dia de céu azul.
mas cadê a claridade que foi?
e pra onde foi?
não, não está escuro, mas anuviado.


17/05/2020

moz, amô

a dureza de estar lá,

e a beleza na memória.

o desejo dos mistérios desvendar.

um povo de sorriso na cara,

alegria exuberante.

e uma ilusão:

a língua nos aproximaria, uniria.

os poderes hegemônicos,

o pensar colonizado,

sim, este nos une

05/05/2020

diário aberto

eu preciso escrever.

preciso.

preciso registrar que estou ouvindo a teresa cristina cantando músicas mineiras, e preciso dizer o quanto amo minas.
e preciso dizer que passei a amar minas por suas músicas.
aquelas músicas que levam a gente pelos verdes, que dão saudade do que nem foi, que tocam num lugar que... só pisando aquele solo em que o pão de queijo do pior pé sujo é o mais gostoso da vida.
terra que me deu amizades que amo de um sem tamanho gigante.
o sonho de cruzar a ponte de visconde de mauá e chegar em minas, ibitipoca, itapecerica, carrancas.
preciso porque hoje paulina chiziane me sussurrou ao pé dos olhos pensares sobre passado, presente, futuro.
grifei.
preciso porque o presente tem sido generoso, com geladeira cheia, comida gostosa, casa confortável.
preciso porque o presente tem sido um presente com a melhor companheira da vida, aquela que me faz rir, chorar, pensar, repensar, crescer.
preciso porque estou quente, estou acolhida, estou mesmo aquecida.
preciso dizer que estou acolhida, quentinha, mas estou também triste, saudosa sem saber o que pensar, num sentir tão profundo com tudo isso, que só sei sentir saudade e viver o hoje sem a certeza do amanhã.

19/04/2020

isoladx.
não que antes não estivesse.
nessa solidão que é o viver,
escolher,
plantar,
colher.
é preciso aprender a ser só,
como nos versos, eu sei.
o que machuca,
cutuca,
dói,
... ou...
sei lá!
,
é essa impossibilidade de ser.
de ser junto.
braços entre-
-laçados,
olhos nos olhos,
corpo presente.
dessas fugas amorosas,
calorosas,
de reencontros.
pra seguirmos sendo só
o que somos.

16/04/2020

andei por andar andei

ando re-vendo, ando re-lendo, andor re-sendo.
ando vivendo, ando sentido, ando sorrindo.

e chorando,
quem não?

01/04/2020

isolades

as semanas passam
passam os dias
já não se sabe
o que hoje
quem ontem
onde amanhã
.
só sente
.
esse choro
.
por isso
por aquilo
por toda e qualquer coisa
que nem se sabe
.
o choro:
da raiva
da frustração
da impotência
do não poder
.
ir
.
vir.
.
já não se pode.
.
não é sobre o tamanho da sua casa
nem sobre a quantidade de invenções
.
é sobre o tamanho do seu querer.

20/02/2020

eles passarão, eu passarinha.

se tem algo que aprendi nesses quase 35 anos de caminhada é que muito (de tudo) passa.

já estive no topo, já estive quebrada. e por falar em quebrar, já quebrei o pé e fiquei de molho por meses, já tive muitos amigues perto, muitos amigues longe. já viajei muito, já vivi anos sem viajar, já planejei, já vivi no impulso. já, já e já também.

o bom dessa história passageira é que os sentimentos também vão, embora existam momentos em que a sensação seja de que nunca passarão, sejam bons ou ruins. eles também passam. a raiva passa (ufa!). lembro de momentos de tristeza e raiva que pareciam não ter fim. hoje, distanciada da raiva e das dores, ainda consigo cultivar memórias boas das mesmas pessoas de quem desejei a maior distância.

ainda que muito passe, tem coisas que não abro mão que caminhem junto e é com elas que sigo no novo ciclo. minha fé, que me faz crer que nunca estive só. nos piores momentos a força de guias, anjos da guarda, orixás, deusas ou seja lá o nome que der pra isso que não se vê mas se sente, esteve comigo. o tem-po in-tei-ro, mesmo quando eu esquecia. os amores que quero bem pertinho. a saúde pra seguir aprendendo na jornada. com esse pequeno combo, quero seguir.

eles passarão, eu passarinha.

07/05/2019

dói, dói, dói.
dói a cabeça,
dói o dente.
dói a dor de estar viva.
já não sei quem fui.
já não sei quem sou.
dói de doer.
do-eu.

não quero a poesia moral.
não quero a politiquesia.
quero a leveza do ser que fui, a clareza de ser quem sou.
eu sou sem saber ao certo o que, para onde, como ou quando. só sou.
perdida, insegura, seguindo, sendo.
amando, buscando, gerundiando no in-certo caminhar.

resgate.

gate.

a porta entre o que fui e o que sou.

soul.

atravessar: através, versar.


24/06/2018

au revoir OU ao re-voar

tão óbvio quanto o sol do verão é esse
medo que chega sem convite
e entra

grita

o novo
,
na sensação de parar, 

pausas

vírgulas

respiros

re-piro.

todo novo dá essa angústia?


17/11/2017

retorno

voltei,
depois de dois anos, voltei.
voltei como se nunca tivesse ido.
voltei porque nunca deixei de ser.
cheguei mãe nesse 2017.
ele se vai.
nós, ficamos e seguimos.
2018.
o que nos reserva ?

13/11/2015

percepções

escrever, escrever, perceber.
o mundo traduzido.
o sentir contínuo em palavras.
hoje, por exemplo,
senti o quanto gosto de caminhar pelas pedras portuguesas do largo da carioca.
o largo democrático:
de um lado um pregador do discurso de ódio, que, quando passo, tapo - literalmente - os ouvidos.
(ele também - não literalmente -, para qualquer argumentação... a prática já dura anos, em nome de deus [que deus prega o não amor???])
de outro, um ser que faz sons usando uma lixeira, um cano e materiais reciclados,
as bancas? cada uma com seu som, elton john musical, elvis, raça negra,
a ação com filas enormes, cadastrando candidatos a empresgos,
a tenda com capoeira, com lutas, as pessoas em suas horas de descanso, de almoço, de vôos, 
os mendigos, os hippies, os estrangeiros, os engravatados, as empresárias, as gostosonas.
tudo num mesmo espaço, todos de passagem.
todos juntamente separados.
o céu está azul.
o charme está no ar.
o sol aquece. ilumina.
o céu ontem, em meio a esses estímulos todos, estava dourado.
exibia pequenas formas, separadas entre si, de nuvens que compunham o todo.
olhava e andava, andava e olhava.
são essas coisas, são elas que me fazem sentir viva.
o pulso ainda pulsa.
os olhos veem, o corpo percebe.


11/11/2015

sei lá, mil coisas.

mar.
cores outonais.
chuva aqui dentro.
calor incessante.
chuva e calor.
calor (s)em luz.
calor e água.
combinações improváveis,
tipo as que tenho aqui.
carregando aqui, ó:
bem aqui, ó.

20/09/2015

no meio da semana não queria que ela tivesse existido, no fim estava feliz. a lua crescia, brilhante, iluminada. conversaram sobre. conversavam muito. mundos diferentes, dois continentes, duas cores, muitos espaços. unidos pela memória, seguiram viagem rumo ao conhecimento do outro, rumo ao conhecimento de si.

16/09/2015

retrato de uma insônia

ainda noite do novo dia.
pássaros (re)iniciam seu acordar com os primeiros sons desse 16.
ouvidos atentos.
é sempre bom aos coraç...
ops, ouvidos.
se os olhos são a janela da alma,
o que serão os ouvidos?

11/07/2015

final de semana abarrotado de... tudo, de tédio.

amiga na amiga,
namorado ausente,
pia entupida.
computador na frente,
ideias embaralhadas.
vazio presente.
vó aniversariando,
orgulho e preconceito em som.
sessão exclusiva,
final de semana começando,
num quarto.
um quarto já foi.
o que foi feito?
pouco.
ou menos do que gostaria.
assuntos mil.
fios na mesa,
roupas na cadeira,
eu na cadeira,
você na frente,
onde foram parar as metáforas?
já existiram elas?
tudo concreto,
nada concreto.
apenas o cinza do dia colorido.


26/04/2015

reflexos sentidos

sinto muito por muito sentir.
sinto a dor alheia,
sinto a alegria compartilhada,
sinto, sinto, sinto.
beira a inocência, beira a infantilidade.
aprendendo a lidar com tudo isso.
aprendendo a fechar os olhos, olhar pra dentro.
abrindo o coração para tudo que há de novo.
amor não falta.

18/04/2015

saí florida,
ainda tremula com os primeiros ares da manhã.
saí disposta,
ainda sonolenta.
saí desarmada,
ainda estou.

31/03/2015

aleatoriedades sobre o gostar

consegui o que queria, a vida floriu.
manhã de amiga precisando de afago, manhã de descanso.
manhã de memórias de dentro.
ler, ver, rever o que fui,
me ajuda a relembrar quem sou.
o que serei, não sei.
a gente nunca sabe, por mais que planeje.
gosto da vida, isso é sabido.
gosto das folhas que caem.
gosto das folhas que nascem.
gosto de ajudar quem está em pé no ônibus, de ceder o lugar.
gosto de encontrar pessoas queridas.
gosto de não gostar mais.
e de aprender a gostar.
gosto da vida.

23/03/2015

reflexões num início de outono

os dias passam, tudo passa.
é bom saber que o que afetava já não afeta.
talvez seja a maturidade.
ou talvez seja o fim do retorno de saturno.
(ufa!)
não precisar ter explicações de fora para estar bem dentro.
não digo que as perguntas não venham.
mas entender que elas não precisam ser respondidas dá uma leveza sem tamanho.
na verdade, acho que pode ser também a maturidade ou o fim do retorno do planeta de anéis.
no fundo, no fundo mesmo, sinto que a leveza vem por novamente ser dona da história.
ser dona da minha história.

26/01/2015

reflexões pré trinta

o tempo passa, o corpo cresce: nariz, orelhas, barriga, tudo.
e ficam mais moles, sem a força das primeiras décadas.
os dentes entortam.
os ossos encolhem, refletindo os anos vividos.
as  olheiras expressam as responsabilidades e preocupações.
os fios de cabelos brancos, idem.
e as escolhas passam a ser mais bem feitas.
o saber o que se quer ecoa pelos gritos de dentro.
o saber quem se é vem com força, sem espaço para o que não se é.
a aceitação - e  aqui merece eco de novo: aceitação, ão, ão, ão, ããããããão!!! - ganha nova proporção.
e o sorriso fica mais pleno.
pleno de toda a alegria da vida, ao pensar numa manhã de janeiro: uau, como é bom respirar!
os olhos expressam verdade, o que vem de dentro.
os altos e baixos já não são tão altos ou tão baixos.
a busca pelo equilíbrio continua a caminhar lado a lado, agora mais junto.
o fora deixa de ganhar toda a importância, embora ainda tenha lá seus momentos.
o dentro é que diz, guia, ilumina a estrada.
nada fica mais fácil, mas o peso do difícil já não tem um corpo tão forte que o apoie.
então se larga o que não vale com certa facilidade.
encara os poréns e segue.
porque nada supera o estar aqui, agora.
nada supera a bagagem dos aprendizados e o desejo de mais.
nada supera a felicidade dos bons dias e dos encontros.
seguimos.



21/01/2015

memórias urbanas

dois velhinhos.
cabeças brancas.
o trem cheio, era meio da tarde.
um luxo para os que compartilhavam da experiência.
em devaneios, só me dei conta de que o velhinho estava a minha frente, minutos (ou segundos? não horas.) depois.
oferta de lugar. recusa. iriam saltar três estações à frente.
a velhinha apareceu depois.
sentada a duas divisões de mim.
parecia mais nova que ele, e ele mais inteiro que ela.
a aliança dele, fina e discreta.
chegou a estação final para eles: carioca.
mas antes disso, ele a pegou pela mão, como apoio à subida do assento.
ela aceitou e num impulso, se levantou.
a aliança dela, fina e discreta.
vestido florido, mas no p&b.
um arquinho segurava os fios de cabelos brancos e quase lisos.
meias compressoras na pernas e sapatinhos impecáveis.
brincaram: ele mecheu no queixo dela, lindamente.
a estação chegou. ele a pegou pela mão, e seguiram juntos rumo aos lugares mil onde imaginei que fossem.
bonito de se ver.

24/12/2014

agradecida, 2014.

foram muitos presentes.
presentes sinceros que a vida trouxe nesse dois mil e quatorze.
presentes para um passado de boas lembranças,
presentes a serem eterna e ternamente agradecidos.
presentes que vislumbram felizes dias no futuro.
presentes que estão no momento presente.

foram muitos presentes.

nas mais singelas ações e situações.
no retorno de pessoas lindas com quem tive o prazer de cruzar os caminhos.
no voltar a ser criança e brincar de pique na casa grande cearense.
no cd ganho de um  anjo taxista em uma rápida passagem por fortaleza,
na lata da barbie recebida com bilhetinhos lindos de minha irmãzinha também lá de cima,
no conserto como "presente de natal" da sandália que teve sua sola arrancada pelas ruas desestruturadas da cidade maravilhosa e por esses pés tropeçantes,
nas folhas rodopiantes que saltam aos olhos sempre que passo por uma árvore,
das cores da primavera que alegram o coração,
na fava recolhida da roça do genro de Patativa e dos inúmeros cafezinhos, regados de afeto e boa prosa vindas do cariri,
dos resultados de provas que fiz - com medo admito - e de reencontrar a capacidade, a qual os olhos insistiam em se recusar a ver,
da casa dividida, por mais um ano, com a melhor amiga que eu poderia ter pra isso,
da música, da dança, das artes, da coragem.
das flores que tornaram a abrir, do lírio que renasceu pela primeira vez desde que aqui chegou, da árvore da felicidade que, tão frondosa está, chega ao ponto de me gritar por um espaço maior.

não vou mentir que também tenha tido seus amargores. e como ignora-los, se são eles, muitas vezes, que nos fazem crescer e reaprender a olhar para a vida?
alguns reflexos continuam no processo de amadurecimento, devem acompanhar por um tempo.
a fé, a gratidão e o amor facilitam nesse caminho.
é com elas que eu vou sempre, num resgate e redescobrimento contínuo desse ser cujos dedos de unhas vermelhas registram em palavras o fluxo circulante por debaixo do que se é aparente.
o resultado é que os amargores também foram presentes nesse processo divino no qual nos encontramos.

ainda é natal, uma semana falta para seu último dia para o término do ciclo 2014.
contudo, já sou grata por todos os presentes recebidos de coração aberto.
venha 2015, venham os 30 anos de uma vida apreciada pelo viver. e que, me permitam todos os seres, animados ou inanimados, visíveis ou não, que assim seja pelos próximos por vires.
que eu me permita seguir da melhor forma.
e que as boas companhias e lindos momentos, registrados em cada marca de expressão e em cada fio de cabelo naturalmente descolorido, permaneçam.

agradecida pelo presente, universo.


17/11/2014

ufa

o desejo é de criar palavras que traduzam o sentir,
tão profundo, tão grande, tão cheio... tão, tão que transborda a ponto de, se fosse água, não faltaria em são paulo, em minas, em lugar algum.
mas as palavras estão secas.
quem sabe pelo fim do ano.
quem sabe pelas histórias recentes, escolhidas por mim.
a fé na vida não me deixa não acreditar que seja passageiro... mas, ufa, tá intenso demais.
talvez sejam as mortes, passagens para o outro plano, de pessoas próximas, pessoas que fizeram parte da minha vida e infância.
talvez sejam os amigos que seguem suas vidas e eu, que esteja sentindo a minha parada.
talvez seja a preocupação em arrumar logo um emprego.
talvez seja tudo isso, talvez seja só um dia.
amanhã vai ser melhor.

16/10/2014

sobre primavera, sobre verdade

os dias de primavera seguem com a luz do sol.
as flores se abrem nos canteiros e colorem as ruas.
os pássaros cantam, ainda antes do sol raiar, anunciando novo dia.
e sei que vale estar aqui, vivendo tamanha beleza.
bela pela simplicidade e verdade que traz em si.
verdade que nós, humanos, às vezes esquecemos de caminhar junto.
verdade, uma ilusão?vem do coração.

21/09/2014

sobre hoje, últimos momentos... sobre bolos.

é assim, o dia está chuvoso e o nó na garganta não desce, não dilui, não desfaz.
é assim, resolvi mudar tudo e... aí?

e aí?

é assim, andei pensando na vida e pensei em fazer um bolo.
nã-não, fiz uma analogia com o fazer o bolo (embora o bolo real esteja entalado na garganta).

foi assim:
há pouco mais de um ano investi meus melhores (?) ingredientes numa massa de bolo diferente. misturei, fiz. e enquanto isso, ri, chorei, mexi e remexi. volta e meia adicionava uma pitada disso, outra daquilo, às vezes achava que estava a massa mais saborosa do mundo. noutras, que estava uma merda.
o fato é que não deu liga, mas insistente me descobri e mantive mexendo, acrescentando tudo que sentia ser pertinente, nos momentos em que iam me surgindo.

é, não deu liga.

resolvi refazer, então.
com coragem para o desapego daquele bolo que estava fadado ao fracasso.
começando pela mudança de um ingrediente básico.
estudei, senti, estudei, senti, resolvi arriscar.
e agora, no momento do risco, porque arriscar é por-se em risco, me pergunto se outros ingredientes não seriam melhores.
apesar disso, percebo que não são só os ingredientes que fazem a delícia do bolo, mas a dedicação das mãos que mexem, do cuidado dos momentos em que cada coisa entra, do forno pré aquecido (quentinho, quentinho... aconchegante), do momento certo da conferência de seu crescimento.
arriscando novos e velhos ingredientes.
com cuidado a cada nova etapa.
com disposição, pero no mucho, as mãos andam cansadas.
e o coração continua a caminhar.

23/07/2014

cariri, tô voltando!

a gente volta.
e não se sabe se o que encontraremos será como as marcas da primeira vez em que estivemos, as marcas felizes, de alegria.
sempre volto.
e a cada vez que voltamos, uma nova oportunidade, um novo sentido - daqueles que são rumo, mas também daqueles que nos tocam, dos que sentimos.
nem sempre voltar é retroceder. voltar pode ser, e é, se permitir experimentar aquilo de novo. reavivar os melhores momentos em nossa memória física e mental.
voltar é se permitir.

21/05/2014

até breve, chapada do araripe.

uma chapada que não é a das cachoeiras de águas azuis.
uma chapada com a força do sertão, com a beleza do verde pós chuvas.
uma chapada que, convencida fui, já foi mar.
lugar com mais do que paisagens lindas, com pessoas.
das pessoas: histórias, olhares, vida.
saio com a beleza dos encontros, com a beleza da cultura, com a beleza da despretensão do  fazer a diferença.
e com isso, a diferença se faz genialmente.
um pedacinho de terra que nós, fruto da cidade grande, pouco ousamos imaginar.
uma chapada de crianças brincando e aprendendo.
e de crianças aprendendo brincando.
tudo tão tão que meu coração já fica apertado pela partida.
e não larga da ideia de voltar.
voltar logo, já.
coração aberto para aprender.
aprender a ser com a genialidade e simplicidade das vidas que por aqui encontrei.
eu vou.
e comigo carrego cada doce encontro, cada olhar e histórias deste lugar mágico e apaixonante.
portas abertas, coração aberto para os novos caminhos.
já já nos reencontramos.



27/01/2014

outras paisagens urbanas

quintino, bairro da zona norte carioca.
trem, meio de locomoção da metrópole.
sobretudo do subúrbio e zonas mais afastadas da (zona sul da) cidade que dizem maravilhosa.
estação de trem de quintino, sentido madureira.
local de passagem diária.
na parede, são jorge, o guerreiro ogum.
uma pintura e uma oração ao santo orixá.
ao lado, debaixo das escadas, uma casa imaginário-real.
uma senhora faz daquele espaço sua moradia.
todos os dias limpa, varre.
a casa: um fogão que, curiosa fico, está em funcionamento?
sofá e embrulhos.

varre, varre, varre.
varre sua tristeza para longe da casa.
varre seus fantasmas pra rua, que, tão próxima, se torna... o que?!
varre.
limpa e faz da fantasia a realidade.
com seu pano na cabeça ela faz da realidade, a fantasia.

05/01/2014

carta a um novo ano

Querido, como esperei sua chegada!

Não queria criar expectativas, mas elas existem alheias a nossa vontade, alheias a qualquer querer. 
O fato é que sua força e presença me tornam tão feliz e esperançosa! 

Veio num pós mergulhos repletos de gratidão e axé naqueles mares de transparência esverdeada e beleza. 
Não sei o que nos aguarda, só sei que estou tomada por uma, repito, esperança - quase infantil, admito. 

Seu antecessor não me deu trégua: casamento desfeito, mudança de emprego, de casa(s), pé quebrado, paixões desfeitas... 
E muita alegria e aprendizado também, sei reconhecer: muitos encontros de alma, e reencontros!, espiritualidade e fé afloraram (saravá!), poesias, viagens... novos ares, novos olhares, como pedi e senti. 

O que nos aguarda?
O tempo, dos deuses mais lindos, responderá. 

Aí vão uns pedidos: saúde (sempre, sempre!), amor, paciência e paz para encarar o porvir da melhor forma. Luz, muita, para continuar nutrindo esta fé que me alimenta a alma. Olhar de criança, atenta e encantada com cada mínimo detalhe da vida pulsante em cada cena. Coragem - que ela se mantenha aqui dentro, me impulsionando a seguir em frente. Porque a vida é linda, e estar aqui uma delícia. Mesmo com o calor desses seus primeiros dias, mesmo com os sonhos inusitados, mesmo com tanto apesar de. Viver é bom demais.

Venha, me tome, me alegre, me entristeça quando necessário, me acompanhe e guie. 
Estou aberta a você, meu querido. Alegria, alegria! Você chegou!

Me despeço deste início com um abraço bem apertado, um beijo bem caloroso e gratidão incondicional.

11/12/2013

o bebê chora, a fumaça consome.
a mãe acalma, com seu leite materno.
(que coisa incrível essa coisa de o próprio corpo gerar o único alimento dos primeiros meses de vida do pequeno, grande ser!)
a chuva parou, a vida voltou.
o ligação não veio,
o sono sim.
preciso dormir, amanhã termino isso aqui.

26/11/2013

encantamentos

toca ao fundo "a luminosidade, é a luz do nosso amor!"... e o nosso amor é tanto!
digo o nosso amor pela vida, por nós próprios... pelas oportunidades que existir aqui, nesta encarnação, com todos os seres, espaços e vidas que cruzam nossos caminhos e promovem um salto na evolução espiritual.
permita-me, minha vida, que toda oportunidade concedida seja devidamente aproveitada e que todo percurso seja fonte de crescimento e amor. que todo esse caminhar seja fonte de luz.
começo o dia com uma imagem que esses olhos e sentidos apreciaram por tamanha delicadeza e grandeza: uma grade de segurança, na área externa da casa em que moro atualmente, molhada pela chuva que não para de cair nesta semana de primavera. gotas prestes a se desgrudarem das prateadas grades reluziam soba luz deste cinza céu. brilhavam, brilhavam tanto que me remeteram às luzes do natal, que se aproxima. e pensei: para que comprar, cedendo à louca lógica do consumo, quando se tem a natureza promovendo tamanho espetáculo?
fitei-os por uns minutos, agradeci - impossível não fazê-lo! -, segui para mais uma semana de trabalho.
que seja bonita.

23/08/2013

as três estações

no outono mudei,
no inverno invernei.
agora quero o florescer da primavera.

(começa quando mesmo?)

12/08/2013

memórias de três semanas sem pé direito

:
correr com rodas pra não perder o pôr do sol com amigas, manter o pé esquerdo firme e forte, fazer listas de viagens, falar com quem se ama com mais frequência, rir e chorar intensamente e quase ao mesmo tempo, ser carregada, ser independente, pensar novos projetos, sentir uma saudaaade da equipe de trabalho querida, descobrir pessoas boas a cada raro aventurar-se na rua, cozinhar com amiga, engordar, estudar.
e ser paciente.
viver.
e ser paciente, aprendizado pra vida.

09/08/2013

volver

é tarde de primavera,
o sol brilha timidamente por entre nuvens claras:
fiz as pazes com a poesia.

---

as ideias pululam embriagadas pelas lágrimas, embaladas por cia do tijolo, ispinho e fulô, patativa do assaré.

02/08/2013

o grito

vamos rasgar a poesia,
gritar ao mundo,
ao horizonte,
à todos:
NÃO PRECISAMOS DELA!

tchau aos bigodudos,
bye às classudas.

adeus você!

o grito silencioso,
livramento da loucura?
palavra emudecida,
siga seu caminho, vá pra longe.
ou
livrai-me do ensurdecimento.

adeus e foda-se.

21/07/2013

ai, meu péi!

samba, risos, choro.
intensidade.
montanha russa.
uôôôu!
chico, circo, domingo.
cama, pé pro alto.
laranja.
a cor, a fruta, a não-unha.
a tarde, a brisa, o inverno.
o om que quer sair,
o sem querer.
as vontades, desejos,
o cansaço.
o computador.
o calor.
o vermelho.
o sangue.
AMOR.
a vida.
os cachos.
o cerrado.
a viagem?
a fruta roxa,
o brinco de viúva.
as lembranças.
os desejos.
a repetição.
o barulho das teclas. negras.
e o dos carros. coloridos de cinza.
e o dos bares.
e todos os meus.
barulhos de mar de dentro.

e tudo isso pra dizer que pequenas distâncias se tornam quilômetros diante de um pé quebrado.

08/07/2013

registro necessário

"vou te contar uma história. lá na rua onde eu morava, tinha uma vizinha que colecionava pedras e amarrava com palha, com linha, fazia colares...
e ela, quando olhava, sentia.
olhava sentindo.
assim, que nem tu.
e essa moça passava paz pra todo mundo que cruzava o caminho dela.
assim, que nem tu.
.
.
.
e essa moça era tu."

mente calada, coração falante.

merece o registro

- vó, parabéns!!!
- obrigada, minha clarinha! senti sua falta hoje...
- pois é, eu estava trabalhando. vó, quanto anos você faz mesmo?
e ela, prontamente:
- 76!
- diminuiu dois, hein, dona marinette!
(gargalhadas de ambos os lados)
e a resposta de minha senhorinha:
- tem que ser. se eu falar a real, tomo até um susto!

05/07/2013

ecodela

vamos morrer,
é isso.
um dia esses olhos hão de deixar o corpo físico,
hão de ver as coisas de outra forma e,
quem sabe,
entender essa
(linda e louca)
experiência: vida.
vamos morrer.
e o que fazer pra não torná-la apenas passagem?
mergulhar nas letras?
nos livros?
se afogar em teorias?
se jogar em todo e qualquer...
todo o qualquer?
se entregar a quem...
a quem?! ao que?!
o que fazer, pergunto.
a ela ecoa.
oa, oa, oa.
a resposta pode ser viver,
mas é tão amplo,
vazio se torna.
e no vazio ecoa.
oa. oa. oa.

23/06/2013

laranja elástica, vai pra lá, vem pra cá,
doce, azeda,
em pés, em mãos,
sempre no mesmo lugar.
e toda essa mobilização lá fora,
alcança essa manifestação aqui dentro,
vou à rua.
pra que?
(pra que - mais que por que?)
seja pelo que for, vamos,
.
.
.
.
.
.
sem esquecer, não consigo terminar.

26/05/2013

bom dia, domingo.

essa paixão pela vida está me invadindo de forma avassaladora. coragem sempre foi minha companheira, e continuamos, ainda que com meu medinho escondido num fundo esquecido(?) da alma. escondido nada, mocinha! ali, bem exposto. tão exposto quanto o céu.
o céu está azul, com alguns desenhos de nuvens brancas, leves. o ouvido entupido desde o voo pra dentro de mim. talvez seja isso, meu corpo querendo me isolar do resto do mundo. faz sentido. é o momento de olhar pra dentro.
o sangue escorre, as lágrimas idem. o mar rebate, aberto e preso entre as veias por onde o fluxo deveria ser sanguíneo. ambiguidades que perseguem e inconstâncias permanentes. e a vida, continua me agarrando e me querendo, e eu a quero de volta, sempre, com toda intensidade, com toda alegria e sofrimento de se optar por jogar-se-me ao  encontro, atravessá-la, agarra-la sem deixar que me escape.
bom dia, domingo.

25/05/2013

viagens erupçadas, num pós vulcão

blefe, pra que te quero?
esse jogo de ser-não-ser, cansativo, angustiante. mentiroso.
... é.
mentiroso!
mentiroso? sei lá.
silencioso.
angustiante.
cansativo.
verdadeiro.
sentido.
bolo da madrugada. só nós. os ingredientes e eu.
e as músicas, claro.
como sem?
lembranças, memórias de massas integralmente misturadas por minhas mãos em tempos passados.
força, jeito, amor.
e o fermento era o grande mistério.
essa vontade de passar dos limites, indo além.
o bolo transbordava por entre as bordas,
subia até cair da demarcação imposta pelo tabuleiro.
a massa ficou grossa? será?
dúvidas emotivas transferidas para uma massa mole (ou semi mole) que, com o fogo, aquele mesmo que promove as mudanças, vira um sólido bonito e apetitoso.
algo que se transforma.
e a bacia onde os ingredientes se hibridam, recebe dedos diretos e língua indireta.
delícias da madrugada.
meta. como diz o poeta da mpb de gil.

29/04/2013

reflexões sobre uma transformação de outono

outono, a estação das folhas secas, das árvores desnudas,
a estação de renovação.
quem disse ser fácil descobrir-se das cores que enchem e acalentam?
e como ignorar o que há por debaixo?
(ou por cima!)
como ignorar a flor que dá na ponta do galho seco?
delicadezas da vida.
o olhar a natureza, que ensina e eleva.
transporta.
transborda.
e o medo?
ah, esse danado, que tensiona os ombros.
tira o sono, deixa num estado meio... stand by (?).
a espreita, de mim, do outro, da vida.
não, nunca tive a intenção de magoar ninguém alguém,
ninguém alguém: você, eu, todos nós, envolvidos nessa tal felicidade.
felicidade. pode ela difarçar-se por tanto tempo?
não, não acho.
somos felizes, fomos.
e sinceros.
sinceridade.
é esta a chave quando a felicidade se perde pelos caminhos da vida.
e é atrás dela que estou correndo.
não quero ultrapassá-la, mas acompanhá-la.
sempre. na vida.
a gente aprende a lidar com a dor,
a gente aprende a sentir o que se sente. e é isso.
não quero o medo que desestabilize, congele.
quero o medo do saber poder não ter sido aquele o caminho.
o quero por saber ser real, o quero pra minimizar os impactos da vida vivida.
o quero por prevenção.
não por deixar de viver.

- ai, que medo!

voltemos ao outono,
será que ele sente medo?
não, não deve.
pelo simples saber que virá o inverno - tempo da maturação da nudez, de recolhimento e friozinho,
a primavera - tempo de florescimento, de cores, de vida transbordante,
e o verão - tempo de luz, força, calor, intensidade da vida.
não, não deve sentir medo.
pelo simples, saber-se outono.

22/04/2013

realidade 
(real + -idade

s. f.
1. Qualidade do que é real.
2. Existência de facto.
3. O que existe realmente; coisa real.
4. Conjunto de todas as coisas reais. = REAL


essa palavrinha tem me incomodado (talvez pelo excesso do não-olha-la, ou...).

tão fácil relativizar esse conceito.
afinal, o que é real? o que sentimos ou o que é, de fato?
mas o ser não está repleto de sentidos e significados que a ele agregamos?

sei lá, não crio  teorias, só vivo.
(ok, menti. eu crio teorias, muitas. e vivo.)


16/04/2013

pal,
avra,
ava,
pava,
lapa,
a
p
a
lavra,
lava,
vala,
pala.

ela e eu,
elo nosso.
me esconde, me acha,
traduz,
debocha.
faz rir, me trai.
amor e ódio.
yin yang.
preto no branco, branco no preto,
somos um,
dois,
somos sem ponto final,

palavras restritas a um pequeno vocabulário.
não que já tenha sido maior, mas também não se restringia a tão pouco.
.
.
pontos reticenciais conectam uns aos outros.
o invisível,
não por isso não-notável.
...
(entre as reticências cabe dizer que invisíveis podem ser as melhores coisas da vida)
...
na vertical ou horizontal.
quero a conexão.
.
.
.
berço do samba,
cadê minha música?
...
quero as reticências e as conexões, as músicas e as cervejas.
os amigos e o amor.
a paixão e a canção.
.
.
.
quero a noite e o dia.
o mar e o rio.
estar entre, sem ter que escolher.

15/04/2013

abril despedaçado

o que me salta e me rasga no atual momento é tão diferente do que eu gostaria que esse corpo e mente expurgassem!
a escrita anda calada, as leituras, erradas.
os sonhos abafados pela necessidade constante desse dia-a-dia adulto. um acordar-enfeitar-trabalhar-não gostar (o contrário, de vez em quando)-voltar-comer-dormir. só há tempo de reproduzir... ser o que, além dessa máquina que funciona diariamente do mesmo jeito t-o-d-o-s-o-s-d-i-a-s? ser afastada do amor, aquele por quem prezo tanto, aquele que anda doente e concentrado em si mesmo.
andamos doentes, meu amor. e isto é fato.
vamos nos curar, precisamos. 
necessito aprender que a rotina pode ser suave, doce. mas preciso amá-la antes. no momento só consigo executá-la e sentir isso que chamo de cansaço. e não sei se essa nomenclatura se encaixa ao que sinto, ao que me angustia. mas sinto e busco palavras para traduzir. preferia não pensar, não sentir. manter aquela felicidade constante e companheira. comprei uma árvore da felicidade numa tentativa de mantê-la por perto. pequenas representações do que gostaria de estar sentindo.
mas entendo também que cada dia traz um novo aprendizado e que muitas coisas vividas e passadas só fazem sentido entre o estar acordada e dormindo.
entendo que não posso suicidar certas escolhas, largá-las prematuramente. cada experiência precisa ser vivida até o fim. sabendo que tudo que começa acaba. preciso aproveitar os momentos, torná-los bons companheiros.
tornar-me boa companheira de mim mesma.

25/03/2013

nós quatro

Quarto, quadrado, duas duplas, dois homens, duas mulheres. Duas mães, uma pai. Um pai?
Quatro filhos de um mesmo progenitor. Quarteto marcado pela mesma ausência. Inúmeras as explicações, única a cicatriz. Como lidar com ela é o que os diferencia. Mas afinal, como lidar com a dor presente da ausência?
Há de não ser radical este caminho, há de não ser complacente. Há de se ter compaixão. Certamente o caminho mais sábio. Acumular rancor? Estou fora, completamente! Mas não se pode esquecer do mau uso feito dos filhos. O uso dos filhos para conseguir o que se quer. Abuso. Não se usa criança para isso.
Mas um pai amoroso, também, além.

24/02/2013

chão de confetes numa manhã ao som de crianças nas ruas.
manhã de retorno, cores e sonoridades.
caminhos que seguem soníferos. caminhada que chega a que lugar, além de um corpo dito saudável e modelado ao padrão imposto? finda folia, resta... o que? musicas sobre o fim, talvez.
o fato é que a vida está cheia de vida, as ruas, os espaços vazios, tudo anda cheio de... imagens.
sentimentos,

exercícios de criatividade

É.

Talvez fosse aquele o momento da solidão e inquietude combinadas e necessárias ao ato de recomeçar a criar. Sabia que estava afastada disto que era tão seu, esse movimento repleto de cargas desequilibradas, de vida, de dores, de cores, de beleza.

-  Escrever. Por que tão fácil nuns momentos e tão complexos em outros? Saria a nova idade que se aproximava? – pensava, pensava e girava. Num ágil 360º, voltava ao mesmo lugar.

Era o cansaço, talvez. O cansaço de bancar saber-se ser, quando desconhecia sua mínima composição. Ou era mesmo a falta de vocabulário.

(Tinha pensado em usar “inspiração” ao invés de “vocabulário”, mas respirava, inspirava a cada novo passo. Mais que isso, via e sentia a cada novo passo. Via os meninos no primeiro dia de aula, vestidos com uniforme da rede municipal chamando uns aos outros, mãos dadas com suas mães pelas ruas. Observava a alegria nos olhares daqueles universos que se apresentavam em pequenos e gorduchos corpos. Via os confetes nas ruas, denunciando a folia recém vivida. Enchia-se de vida.)

É, não era isso. Definitivamente, não era falta de inspiração.  Era a dificuldade de casar palavras, sem repetir-se, como sempre fazia. Organizar palavras tornava-se tarefa árdua, sobretudo quando se comparava aos outros, pior, a si mesma em outras épocas. Lembrou que quando foi buscar uma água pra tentar retomar a sobriedade, encontrou um Leminsk gritando na porta da geladeira: “abrindo um antigo caderno foi que eu descobri: antigamente eu era eterno”. E o que fazer diante de tamanhas genialidades, se não emudecer? E caímos de novo naquela velha história do pudor e compaixão, não é mesmo? Compaixão por si. Um belo aprendizado, para um pulso que ainda pulsa e uma cabeça que lateja.

Perdeu-se, escorregou pelos pensamentos, que, por sua vez, lhe escorriam por entre os dedos entreabertos sobre o negro teclado. A caixola atrofiava-se e, sem que se percebesse, voltava a escrever. Não se deu conta, impedida pelo medo petrificante de não ser aquilo que queria ou que achava que era, ao passo em que já estava sendo. E já não estava mais pedindo socorro porque aquela era sua cura. Escrever qualquer coisa que a cabeça teclante e os dedos pensantes a obrigassem a expurgar.

Foi com tudo, preencheu a página. Desnudou-se, jogou-se, mas não declarou-se. Por enquanto, livrar-se daquela necessidade era o que lhe tomava a energia. Livrar-se para ter outra vital necessidade, da qual também se livraria para dar lugar a uma nova e assim sucessivamente. E recordou outra frase, agora do filme Leopardo, que fala que é preciso mudar para que tudo fique no mesmo lugar. Pensou que acabara, mas nunca se acaba, tolinha. Sabia que não acabara, mas ombros destravaram e a boca esboçou uma abertura, insinuando certo sono. Deu um primeiro passo e foi dormir.

25/01/2013

fantasmas de meio século

Cheguei em casa, ontem a noite, e uma festa surpresa em família saudava meu meio século vivido. Ô, delícia(!) por todos que ali estavam para celebrar a data comigo e, ô, preguiça(!) pela necessidade de espalhar sorrisos e atender a todos num momento em que só pensava em ficar quieto, olhando o que passou e entendendo o que anseio para os próximos cinquenta anos. O espaço é amplo, deu para os (quase) trinta convidados, se espalharem a vontade pela sala festiva, cheia de balões e retratos. A noite foi passando ao som de bossa nova e de burburinhos provocados por conversas mil. Muitos não se encontravam há mais de dois anos e as atualizações estavam pendentes: o priminho que passara no vestibular, a avó que perdera a melhor e pouco mais jovem amiga, as viagens de uns ao interior do país, de outros ao exterior… essas coisas de família. Não, não. De família não. De gente que se ama e se encontra pouco (ou que se ama porque se encontra pouco). Presentes também estiveram as narrativas de memórias diversas dos que me acompanharam na jornada, histórias daquelas em que um contradiz o outro por, cada qual sob seus singulares sentidos, ter vivenciado o mesmo fato. Lá pelas tantas, após alguns copos de cerveja, comecei a olhar as fotos e, de uma maneira meio transversal, experimentei parte do que queria naquela data de balanço da vida, revivi as histórias através das fotografias, uma por uma, numa linha que nada tinha de cronológica. Gostosa sensação de nostalgia.
Todos se foram, as fotos ficaram de presente.
A bagunça também.
Fui dormir, mamãe já havia convocado sua faxineira para limpar os resquícios da noite marcante.
Não sei exatamente por que, talvez pelos estímulos da noite passada, mas hoje de manhã acordei com a imagem daquele momento que me introduziu na sensação de derrota ou, mais que isso, me trouxe à luz da consciência este meu, por anos a fio, sentimento parceiro. Estranho… a foto não era das que estavam penduradas na parede porém foi a imagem que me acordou e acompanhou em cada minuto do dia. Para mim sempre foi claro que o registro do qual fujo, simbolizava a grande dor de, pela primeira vez, não ter sido o primeiro. Eu, filho, neto e sobrinho único por quase toda a infância, deparei-me com a realidade de abrir mão dos ganhos para que terríveis rivais ficassem com o que (eu achava que) era meu. Não sabia mensurar o tamanho da dor que perder aquela prova de natação representou para mim. Lembro exatamente do dia, estava cinza como hoje e, eu, logo ao acordar, corri para a cama de meus pais, eufórico com a prova, tão esperada prova. Tudo foi mágico até o fim da competição, quando levantei a cabeça da água e percebi que tinha chegado atrás de outros três. Gosto amargo da sensação de derrota, ainda que em cima do pódio, ainda que com o troféu na mão. Anos mais tarde, na passagem da adolescência à vida adulta, este sentimento companheiro levou-me ao consultório de minha analista. Entre idas e vindas, os anos de trabalho fizeram com que eu, o grande eu, compreendesse muitas coisas relacionadas a este e outros fatos. Contudo, o eu, pequeno eu, insistia nas perguntas que já havíamos respondido de diversas formas e por inúmeras vezes. Naquela manhã, perguntei-me se não havia superado o episódio, quando na verdade, sabia que o buraco era mais fundo. Agarrava-me a ele para justificar meus medos de perda e de incapacidade. Pelos receios, tornei-me alguém solitário. Cordial, após a temporada de terapia, mas sozinho. Era chegada a hora de olhar de verdade pro que fui, pro que sou.
Serei?

Texto sobre uma das imagens do banco exibido no terceiro encontro.

A imagem: um menino, um pódio, um troféu, uma tristeza.
Engraçado é que o escrevi na quarta-feira e, ontem, várias coisas me levaram a ele.

Clara

19/12/2012

ser

, e esse ser é infinito, cheio de possibilidades
repleto de mudanças ao longo da trajetória
a gente nasce pra ser,
seja lá o que isso queira dizer, nós somos
só não esqueçamos que ser é também não-ser,
porque deixamos de ser o tempo todo
e seguimos,
estando alegres, felizes, tristes, decepcionados, raivosos...
somos
seres
humanos.
sentimos.

08/10/2012

reflexões sobre um céu de fevereiro

estranha essa coisa de estar bem ao mesmo tempo em que cheia de questionamentos. dúvidas somadas ao medo de saturno em escorpião, esse ascendente que renego, optando pela terra do nunca. síndrome de peter pan, embora não tenha sido meu personagem preferido, mas de meu irmão caçula - aquele cujo filhote ainda não fui conhecer. ravi, luz. sobrinho primeiro.
tantas descobertas e desconcertos! o céu me apresenta o que escolhi, cheguei nascendo. ou nascia às 22:45 ou nascia às 22:45. não dei opção. sem possibilitar o efeito anestésico, cheguei. olhos bem abertos, vendo todo o mundo fora do quente e aconchegante útero terezinhático. primeira escolha na vida. será? foi, acho que sim.
independente disso, sei que o céu estava pra peixe, pra água, muita água. 
e pra um certo touro.
e esse céu disse muito sobre clara no dia em que retornou a escorpião.
e agora, com todas as informações nas mãos... não, nas mãos não. aqui dentro, batendo como um mar revolto de emoções. imagino que nas mãos estariam com o saber os passos a seguir. 
sei que as ideias de pisciana típica correram rio abaixo, é o que tenho. 
a angústia de não se saber o que fazer nessa segunda pós tpm. entrando num mundo novo, desconhecido, iluminado pela lua cheia - mesmo que na data de chegada dessa pisciana atípica, tenha sido nova. 
a cheia é a que sempre espero que clareie ideias e sentimentos.
no mais, a entrada em escorpião chegou com o reencontro de amigos queridos e de infância, amigos da escola em que me mantenho ligada ainda hoje, quando o estado me obriga "a exercer o papel de cidadã". 
sigo. acredito. vou. sou. 

21/09/2012

memórias do paraíso

me desculpe o tempo linear, cronológico, mas aqui dentro a coisa funciona diferente.
digo, aqui, dentro de mim.
não poderia começar a trabalhar sem antes expressar as sensações, lembranças e delícias de um lindo fim de semana pré-primaveril.
trata-se de mais uma experiência no paraíso. dessa vez, diferente. mais integrante, mais dentro. cada vez mais, mais, e mais. dessa vez por nós mesmos, ainda que tenhamos encontrado nosso guia amigo, mais amigo do que guia nos dias de hoje. aliás, devo começar por ele, que marcou o começo, saudando-nos com seu abraço apertado de boas vindas e sorriso estampado.
- andré é daquelas pessoas iluminadas, que já fazem o bem só por existir. entende? -
, chegamos e resolvemos dar uma passeada pra entender as transformações pelas quais o paraíso tinha passado - afinal, tinha quase um ano desde a última visita. melhor, para reconhecer aquele espaço tão nosso. logo nos primeiros passos, um carro grande, com um adesivo "<< gentileza>>gera<<gentileza>>" para e, dele, desce um rapaz de dreads - cada vez maiores! - muito familiar. andré!!! indício de que a estadia seria linda. e foi.
proseamos, soubemos das transformações pelas quais nosso amigo havia passado e combinamos uma visita à sua nova loja - que vale, no mínimo, uma olhada pelas coisas lindas: https://www.facebook.com/LojaSalamandra ! -. seguimos pro almoço, no jatô. justo almoço.
passamos na salamandra em seguida, horas de prosa, fotos, xangai, compras, matança de saudade.
(ok, não sei se horas, mas um tempo gostoso. hoooooras!).
à noite, um rock e uma pizza no alquimia precedendo o blues do dotô e música reciclada do vida seca. ê, goiás, quanta gente talentosa você doa a esse brasil!
no dia seguinte, as loquinhas. mas antes, a feira: produtos orgânicos e naturais, roupas de algodão, suquinhos verdes. gente bonita, gente feliz. risadas e lembranças nossas ao ver harebolos.
depois, loquinhas. a mesma trilha que me derrubou, abrindo ferida ainda não completamente cicatrizada  - e que, loucamente, curto que assim seja, me faz lembrar, marcou-me na pele. mesma trilha, paisagem diferente. a secura. bela, bela.
escrevo e sinto, escrevo e (re)vejo.
encanta-me.
o almoço seguido no nosso tapindaré. outra chef, mesma decoração, comidinha ainda deliciosa. de se empanturrar. comemos, comemos, comemos. brigadeiro completou a refeição. e quem me conhece imagina a felicidade dupla: brigadeiro e chapada!
a tarde foi de pôr do sol visto da rua e de mais reconhecimento.
a noite foi de papos gostosos em volta da garrafa de café, pessoas novas, lanchinho no vegetariano cravo e canela - com o quadro que faz lembrar que há vida nos filés da vida. a noite foi de reencontro com isabel, amiga querida. (não necessariamente nessa ordem)
a noite foi de paz. a noite foi de amor.
domingo chegou, último dia. dia de aproveitar como se fosse o último.
volta agendada, ideia na cabeça, uma graninha no bolso, bunda na garupa da moto e cabeça no capacete. rumo às almécegas, hora de vê-las na seca e, finalmente, banhar-me naqueles rios por onde passei com feridas abertas e banhos impossibilitados. lembrava da longa trilha, mas meu nativo moto-taxi-driver, cujo nome - perdão - não me recordo, resolveu relembrar um caminho que fazia há muito tempo, subindo, subindo e subindo aquela estrada de cascalhos e buracos. deserta que só, mas, bonita que só. passava-me confiança, muita. na garupa, corpo ao vento, apreciava o trajeto - que é tão prazeroso quanto estar lá, em qualquer lugar pra onde se vai. caminho de papos com o motoqueiro, nas tentativas de decifrar o que ele falava com aquele sotaque carregado e voz concentrada na área interna do capacete.
chegamos.
paisagem de meio de trilha. alguns transeuntes com cara cansada pelo sol na cabeça seguiam em direção ao lugar pra onde iríamos. marcamos o horário da volta com nossos motoqueiros e seguimos a trilha. dez passos e lá estávamos! não acreditei que nosso amigo tinha cortado tamanho caminho. minhas pernas agradeceram imensamente. meu espírito nem se fala! ainda que a trajeto seja uma parte gostosa, ganhamos horas de paisagens e banhos a mais com esse atalho. (reflexão: ganharíamos por todos os lados, eu sei, mas o caminho traçado deixou-me satisfeitamente feliz.)
mais tarde soube que havia 10 anos que ele não pegava aquele caminho e que não tinha certeza de onde estava nos levando.
emoção!
almécegas 1, tão linda, tão linda! encanta-me. banhos, sol, pessoas, força, renovação, vontade de não mais sair. mas saímos.
rumo à 2.
longuinha a trilha de volta - e viva o motoqueiro!
informações de um rapaz indicavam o início da nova trilha após caminhada de 1km. "pernas, lá vamos nós!". caminhamos 100 metros, prontos para comer poeira como havia sido no dia anterior, no seco caminho pras loquinhas. claudia para, buzina e indaga: "querem carona?". você, que está lendo isso, e que é espert@ já adivinhou a resposta, né? o resultado foi de mais um encontro na vida. agora um encontro paulista. papos e papos no carro e cachoeira. histórias e histórias. mistura de sotaques.
delícia.
almécegas 2, encanta-me. banhos, sol, pessoas, força, renovação, vontade de não mais sair. mais umas trocas. luciana, nordestina - se minha memória não falha, de serjipe. prosas e prosas. trocas e trocas.
hora de ir. vontade de ficar. almocinho gostoso, soneca à tarde, lanchinho no cravo e canela, gergeliko. festival de música instrumental - fagundes que não é o antônio, mas o pablo. música boa. vida.
abraços agora eram de despedida.
saudade começando a apertar.
amor, paz.
soneca pré-viagem. volta acompanhada pela lua que sorria.
minh'alma sorria de volta.


nota: comecei na segunda de piriri e retorno à "cidade maravilhosa". as malas continuaram com as roupas sujas, jogadas no chão do quarto do apê que fica no prédio de muitos andares - até ontem. o biscoito do voo continuou intacto - até alguns minutos atrás. acabou, voltando à vida real, duas semanas após a sexta de chagada. até a próxima.


03/08/2012

tá, tá. tem coisa errada aqui. insegurança, medo. e vontades mil.
tá, tá. mas e aí, o que fazer com isso?
pedir socorro à minha anja da guarda.

16/07/2012

registros de uma segunda-feira

...e sigo achando que não se pode culpar os outros pela sua não-felicidade, ainda que momentânea...
---
e que fique registrado, a vida é simples.
quando não se demonstra problemas, não precisamos apresentar soluções.

14/07/2012

quase um ano depois e a secura das palavras já não me abala tanto.
não agora.
porque a vida é dessas, que oscilam entre o ser isso ou aquilo.
ou não ser.
porque mesmo não sendo, se é.
porque se é o tempo todo.
e mais uma vez volta a ser.
aquilo.
ou isso.
e nesse mar de sentidos, seguimos.


09/07/2012

é essa coisa que cega, ensurdece e da esse frio na barriga, enjôo, ou sei lá o quê.
essa vitalidade que salta de dentro, pra dentro. vontade de escrever, registrar em palvras tudo isso que os olhos vêem e mente processa. acho.
vontade de viver, de experimentar, exprimir. viver!
cansa-se da vontade, não do viver. sem explicações, porque não tem explicação.
um dia, dois dias, uma semana, um ano.
tudo igual, nada muda. tudo igual, tudo muda.
tudo diferente. tudo igual.
nada muda.
eu mudo.
eu muda.

01/06/2012

o querer

em momentos felizes, em momentos irritados, em momentos tristes.
a verdade é que só penso em você.
em estar junto a ti, minha mãe.
nossa mãe, minha chapa.
viver em sintonia com você, no seu tempo, no seu ritmo.
viver em ti, contigo.
ando cansada de buscar-te entre o asfalto, o concreto.
te quero sempre, diariamente.
é certo que há uma utopia neste querer.
mas quero.

26/03/2012

da série "cenas urbanas"

segunda-feira de sol e muito calor no rio de janeiro. uma maravilha para os que não trabalham e podem ir à praia, um tormento pra quem pega ônibus lotado. a cidade arde, queima, e apresenta um trânsito de deixar qualquer são paulo pra trás.
eu, num ônibus que liga a zona norte (quente por natureza) ao centro (idem).
passando pelo túnel que conecta o catumbi à praça da cruz vermelha, avisto um sujeito sem camisa, com uma calça que não sei bem se jeans e uma sacola do supermercado mundial na mão.
num misto de medo e curiosidade, olhava intrigada o que o rapaz, parado próximo a uma goteira, fazia com a sacola - que agora estava apoiada sobre um muro (ou qualquer coisa que o valha).
tirou dois objetos da bolsa plástica.
cada vez mais intrigada, segui olhando.
dois jatos de água caiam do teto e, finalmente, identifiquei o que o rapaz sacara: uma escova e uma pasta de dentes. na maior naturalidade, como quem está no banheiro de casa, pôs a pasta na escova e começou a limpar os dentes. de repente, se meteu sob a água e banhou-se.
não sei ao certo o que senti.
surpresa, sem dúvida.
inveja, pelo frescor que aquela água - ainda que suja, proporcionava naquele momento em que minhas pernas e costas marcavam o banco de suor.
compaixão pelo apelo do sujeito, que fez daquela água suja sua ferramenta de higiene pessoal.
interesse e algum sentimento que a palavra se esconde, pela criatividade em - como diz o ditado popular - fazer do limão, a limonada.

28/02/2012

reflex - indecis - ões

aqui o tempo é outro, o ar é outro, a vida é outra.
aqui, dias de céu azul tem nuvens cinzas.
aqui, o ar transparente é poluente.
o tempo é corrido, por aqui.
é outro.
aqui é tempo, tempo, tempo, tempo, não serei nem terás sido.
e é porque simplesmente não há tempo de ser.
não. quase mentira.
pra ser, basta ser. não precisa de um lugar específico. se é todo o tempo.
mas digo ser o que se aprecia - mais: o que necessita! -, ser.
a vida é corrida.
a vida que faz desacostumar com o tempo desacelerado das manhãs de céu azul e ar puro.
ela lá faz com que os dias passem lentos enquanto se caminha.
e a dúvida traduzida por vinícius, o poeta, permanece intacta...


"Que a vida é esta incerteza que em mim mora
A vontade tremenda de ir-me embora
E a tremenda vontade de ficar."