08/02/2007

"Na semana passada escrevi sobre os “vibradores”, os “consoladores”, os “ricardões” digitais portáteis. Nos bons tempos, sexo era uma coisa complicada: sonhos e corpos, orgasmos e sonetos. Hoje, queremos alijar sentimentos românticos da ginástica sexual. Nosso ideal é não sofrer. O mundo está tão angustiante que o desejo é o “anti-werther”, é gozar sem alma. Mas, desde que escrevi sobre o assunto, mulheres me cobram com ardor: “E os homens? Qual é a deles?” Bem, como “hype” da desumanização sexual, só nos resta a boneca inflável, a “sex doll”, a noiva do Frankenstein. Isso. Para as mulheres, é mais simples; elas se dão bem com uma peça portátil; mas os homens têm de se defrontar com o objeto total, com a imitação da vida. O vibrador é uma metonímia digital (a parte pelo todo); a mulher de borracha é uma metáfora analógica. O “consolador” é arte contemporânea; a boneca inflável é a representação figurativa. Somos apenas fruto da imaginação feminina? Por que precisamos da imagem figurativa da mulher? Não sei. Sofrida por tantos séculos, talvez a mulher seja mais livre longe de nós. Será que lhes basta o pênis digital, sem inconsciente, sem bigode, sem flamengo, sem manias? Para elas, o consolador é uma “coisa em si”; o homem foi amputado dele. Para nós, a mulher inflável tem de estar ali, inteira. As raras genitálias femininas inventadas parecem esquartejamentos. O “passaralho”, não; voa impávido, aplaudido pelas moças. Na internet, há milhares de bonecas, do plástico ao silicone, de ridículos aleijões até sofisticadas damas consistentes. E cada modelo é mais que o corpo, pois nos promete um consolo moral, além do prazer puro. A mulher de borracha quer nos provocar sentimentos – foi construída para nos iludir com um estranho amor. Há mulheres de borracha que falam em várias línguas. Gozam em japonês, inglês ou francês (canadenses), há mulheres com baterias 4AA e motorzinho vibratório, há bonecas com línguas rotativas, há mulheres alienígenas, cheias de buracos e vozes metálicas, há sussurros românticos, frases carinhosas e elogiosas a nós. As mulheres artificiais buscam imitar a natureza – entre elas flutua um desejo romântico masculino. Há também (vi na rede) “bofes infláveis”. Sim, há bonecos malhados, copiando “brad pitts” ou “falcons” para gays enrustidos. Ambos vivem “dentro do armário”. Mas, mesmo com alma feminina, um “consolador” não basta aos homens, gays ou não. Pênis nós já temos; precisamos da presença total. Falamos em coxas e bundas, mas queremos a alma. Qual a razão do sucesso das “sex dolls”? Os anúncios machistas dizem: “Compre uma! Não precisa levar para jantar nem aguentar papo chato...” Mas, isso não é a verdade. Não é por tédio, não. A razão do sucesso das “sex dolls” é o nosso medo. Vamos assumir: temos medo das mulheres. Sua multiplicidade, sua “mobilitá”, sua variação nos assusta. Queremos trancá-las num só sentido, mas elas são polissêmicas, mutantes, inesperadas. Os islâmicos, primitivos e óbvios, prendem-nas em burkas ou haréns, sufocando sua luminosa vitalidade. E nós, que tememos? Temos medo sobretudo do Grande Amor. O grande amor nos enlouquece, nos fragiliza, nos desampara. Temos medo do abandono, da rejeição... Queremos manter a mulher imutável, mas ela nos escapa sempre, fluida, vazando por entre as frestas, fugindo de nosso controle. Já a “sex doll” nos espera, no fundo da gaveta. A “sex doll” não provoca crimes de honra, de ciúme. Ninguém mata a “sex doll”, que já vem morta numa tecno-necrofilia (o que é uma persistência romântica...) Somos muito mais carentes do que pensamos em nosso machismo boçal; as mulheres são mais pragmáticas (cartas à redação...). Claro que as mulheres, mesmo infláveis, também dão trabalho. Nos manuais de instrução, informam-nos que elas não podem estar nem muito cheias nem flácidas. Muito cheia, ela nos rejeitará, pois “quica” ao contato. Vazia, nos abandona, foge entre nossas mãos, não têm “pega”. Imagine-se o leitor num posto de gasolina, buscando a calibragem certa: “Põe mais umas libras aí, pra ficar mais gostosa...” Outro problema é que a mulher inflável nos deixa sozinhos, mesmo no ato do amor. Ela nos responde com frases feitas, gravadas, mas não atende a nossas demandas. Uma das grandes cenas de cinema que vi na minha vida foi num filme pornô. Isso: por acaso, uma sacanagem pode virar “grande arte”. A cena: um homem sozinho num motel ama uma boneca inflável. Com afeto, com paixão. A boneca responde a cada gesto seu, numa reação de espelho. Ele fala com a boneca, grita, beija-a, mas o desamparo da mulher muda, sem vida, repetindo simetricamente cada carinho seu, aumenta a fome de amor do sujeito, que chega ao clímax desesperado numa chuva de lágrimas. Naquela pungente cena, antológica, se ilumina uma necrofilia romântica, a brutal solidão do amor. Bergman assinaria a cena. A boneca inflável é a prostituta radical. Na relação com a prostituta, a maioria dos homens quer amor. Essa é a verdade. Queremos o coração ou o beijo profundo que ela não nos dá jamais; mas com a prostituta ainda temos esperança de um afeto, da conquista de um “reconhecimento” ou gratidão. A “sex doll” nos dá tudo, mas nos deixa sozinhos diante de nossa tragédia. Terrível é a tristeza do “silêncio de depois”: o homem ofegante se ergue da cama e esvazia a boneca que lentamente se redobra, com o suave silvo do ar que a abandona, como um lento desmaio. O homem guarda-a com carinho, longe dos olhos sadios da casa, mas ela nos angustia mesmo no fundo do armário, como um cadáver oculto. Com a prostituta, pecamos. Com a boneca, praticamos um crime secreto. Não há duvida: estamos virando coisas. Com vibradores ou “sex dolls”, e espantosos aparelhos que virão, a tecnologia da solidão nos manterá iludidos por muito tempo. Teremos prazeres tecnológicos inimagináveis, até que o excesso de satisfação vire um deserto assexuado. Neste dia, estaremos broxas diante de bonecas esvaziadas. E teremos uma saudade infinita do sofrimento romântico. "

A BONECA INFLÁVEL NÃO AMA NINGUÉM - Arnaldo Jabor para Jornal O Globo, em 30/01/07.
"o corpo é a droga do momento"

"o corpo é a droga do momento"

"o corpo é a droga do momento"

"o corpo é a droga do momento"

"o corpo é a droga do momento"


desde que ouvi essa frase, agora a noite, não me saiu da cabeça. mil pensamentos vieram e se foram com relação a ela. fichas caíram... se caíram.

06/02/2007

quisera eu ter vivido no tempo da fotografia preto e branco...
no tempo do poetinha camarada e da garota de ipanema...
ah, a bossa nova...
quanta saudade...
quanta saudade do que não vivi...

03/02/2007

Estou ficando com real medo do Orkut.
Há dois anos, ou pouco mais, quando entrei pela primeira vez - sim, já fui e voltei umas cinco vezes. Sempre acabo me rendendo, infelizmente. - era apenas um site de relacionamentos. A idéia era interessante por dar-nos a oportunidade de (re)encontrar pessoas com quem haviamos perdido o contato, amigos de longa data, enfim, a proposta era (aparentemente) boa.
Com o tempo e o grande número de acessos e informações, passou a ser uma arma para saber os passos de vidas alheias. Uma ótima arma para o voyerismo e fofocas.
Até aí, tudo bem (eu disse tudo bem? Não é tudo bem nada, pois isso já é absurdo, já que ocupamos um bom tempo olhando perfis alheios num tempo em que se poderia estar fazendo coisas construtivas), mas de uns tempos para cá, aliás, de muito pouco tempo para cá, o site tem abusado dos recursos para prender a atenção dos usuários. Compartilhamento de fotos, mensagens instantâneas, torpedos por celular, vídeos pessoais... pára, pára, pára!!!
Aonde isso vai parar?!?!
Está virando um mal necessário. Não acho que vá demorar muito para o Orkut ser necessário para a respiração e sobrevivência humana.

SOCORRO!!!