26/05/2011

um falso jardim pra certezas arraigadas. o medo e a insegurança escondidos num fundo de alma densa, repleta de dúvidas e desejos. talvez seja o fim do ciclo, dos ciclos vários e a incerteza maquiada pelos discursos firmes e aparente segurança. sim, é o fim do ciclo tão esperado. a voz quase não sai por imaginar o poder que ela tem diante do que se deseja. e como lidar com o ter o que se deseja?
toda ânsia por aquilo que tanto se quer, diante da possibilidade de se tornar real sai com palavras sem tom, sem cor, sem som. e o receptor, não consegue acreditar que os olhos expressivos se tornam palavras trêmulas, sem coragem de ser. as expressões demonstram a fraqueza escondida em gestos trêmulos e rápidos, como se fosse necessário se livrar daquele instante tão próximo, um quase chegar.
não sei ao certo aonde esses dedos guiados por um sentir profundo estão nos levando.
sei que, de alguma maneira, as palavras precisam ser ditas. sem medo, sem bochechas vermelhas, com voz. e se rolarem as lágrimas, que lavem e limpem.
e que tornem o jardim real, com certezas provisórias.
provisórias como a vida.

03/05/2011

Permita-se

Jogando cartas em dupla com meu irmão em um sistema online, me deparei com algo que, naquele momento, me confundiu. Estávamos no mesmo quarto, eu em um desktop e ele em um notebook. Às vezes olhava o jogo dele para ver as jogadas que poderíamos fazer, mas não entendia muito bem que no computador dele, a posição que ele ocupava era a mesma que eu ocupava no meu, então, imaginava suas cartas como minhas e me esforçava para lembrar de jogos que eu não tinha planejado. Em vão, claro. O jogo era dele.
Muitas questões me surgiram a partir desta simples situação. A mais gritante, não fugindo ao que imagino que você esteja imaginando, é a em torno do olhar sob um ângulo diferente. Quão incrível se torna ver o mesmo jogo sob um ângulo completamente distinto! Mas é um exercício difícil, pois é preciso estar desconectado de si(?), do seu centro como centro universal.
Não sei se a última frase exprimiu exatamente o que eu quis dizer, inclusive porque a lendo descolada do contexto, soa bastante controversa com meus pensamentos e convicções(?) dos últimos anos. Mas o que somos se não seres em mutação e, por isso, contraditórios? É uma relação meio esquizofrênica, na verdade: ao mesmo tempo em que você deve ter consciência de si e, normalmente, precisa estar centrada no seu eixo, não pode deixar de praticar o olhar de forma diferente. Diferente da maneira como se olha frequentemente, diferente do que acredita ser o único meio de se ver, por ser seu.
Escrevendo me obrigo a refletir e percebo que aqui, no espaço em branco em que as idéias se tornam palavras, frases, parágrafos, não é tão esquizofrênico quanto parecia ser inicialmente. Talvez essa realação siga a mesma lógica do ser feliz, mas estar triste. O que quero dizer é que, talvez, existindo um centro, ou melhor, existindo a consiência do que se é, se pode experimentar ser outros em determinados momentos. É como andar no Centro da cidade tendo alguns bons pontos de referência: você anda, anda, experimenta o pavor de estar perdida, mas quando menos espera, encontra um porto seguro, o ponto de referência.
O difícil, no entanto, ainda é conseguirmos nos dar a chance de experimentar o olhar diferente, ainda que num mundo em que seja permitido experimentamos ser todas, muitas, diversas.