11/12/2013

o bebê chora, a fumaça consome.
a mãe acalma, com seu leite materno.
(que coisa incrível essa coisa de o próprio corpo gerar o único alimento dos primeiros meses de vida do pequeno, grande ser!)
a chuva parou, a vida voltou.
o ligação não veio,
o sono sim.
preciso dormir, amanhã termino isso aqui.

26/11/2013

encantamentos

toca ao fundo "a luminosidade, é a luz do nosso amor!"... e o nosso amor é tanto!
digo o nosso amor pela vida, por nós próprios... pelas oportunidades que existir aqui, nesta encarnação, com todos os seres, espaços e vidas que cruzam nossos caminhos e promovem um salto na evolução espiritual.
permita-me, minha vida, que toda oportunidade concedida seja devidamente aproveitada e que todo percurso seja fonte de crescimento e amor. que todo esse caminhar seja fonte de luz.
começo o dia com uma imagem que esses olhos e sentidos apreciaram por tamanha delicadeza e grandeza: uma grade de segurança, na área externa da casa em que moro atualmente, molhada pela chuva que não para de cair nesta semana de primavera. gotas prestes a se desgrudarem das prateadas grades reluziam soba luz deste cinza céu. brilhavam, brilhavam tanto que me remeteram às luzes do natal, que se aproxima. e pensei: para que comprar, cedendo à louca lógica do consumo, quando se tem a natureza promovendo tamanho espetáculo?
fitei-os por uns minutos, agradeci - impossível não fazê-lo! -, segui para mais uma semana de trabalho.
que seja bonita.

23/08/2013

as três estações

no outono mudei,
no inverno invernei.
agora quero o florescer da primavera.

(começa quando mesmo?)

12/08/2013

memórias de três semanas sem pé direito

:
correr com rodas pra não perder o pôr do sol com amigas, manter o pé esquerdo firme e forte, fazer listas de viagens, falar com quem se ama com mais frequência, rir e chorar intensamente e quase ao mesmo tempo, ser carregada, ser independente, pensar novos projetos, sentir uma saudaaade da equipe de trabalho querida, descobrir pessoas boas a cada raro aventurar-se na rua, cozinhar com amiga, engordar, estudar.
e ser paciente.
viver.
e ser paciente, aprendizado pra vida.

09/08/2013

volver

é tarde de primavera,
o sol brilha timidamente por entre nuvens claras:
fiz as pazes com a poesia.

---

as ideias pululam embriagadas pelas lágrimas, embaladas por cia do tijolo, ispinho e fulô, patativa do assaré.

02/08/2013

o grito

vamos rasgar a poesia,
gritar ao mundo,
ao horizonte,
à todos:
NÃO PRECISAMOS DELA!

tchau aos bigodudos,
bye às classudas.

adeus você!

o grito silencioso,
livramento da loucura?
palavra emudecida,
siga seu caminho, vá pra longe.
ou
livrai-me do ensurdecimento.

adeus e foda-se.

21/07/2013

ai, meu péi!

samba, risos, choro.
intensidade.
montanha russa.
uôôôu!
chico, circo, domingo.
cama, pé pro alto.
laranja.
a cor, a fruta, a não-unha.
a tarde, a brisa, o inverno.
o om que quer sair,
o sem querer.
as vontades, desejos,
o cansaço.
o computador.
o calor.
o vermelho.
o sangue.
AMOR.
a vida.
os cachos.
o cerrado.
a viagem?
a fruta roxa,
o brinco de viúva.
as lembranças.
os desejos.
a repetição.
o barulho das teclas. negras.
e o dos carros. coloridos de cinza.
e o dos bares.
e todos os meus.
barulhos de mar de dentro.

e tudo isso pra dizer que pequenas distâncias se tornam quilômetros diante de um pé quebrado.

08/07/2013

registro necessário

"vou te contar uma história. lá na rua onde eu morava, tinha uma vizinha que colecionava pedras e amarrava com palha, com linha, fazia colares...
e ela, quando olhava, sentia.
olhava sentindo.
assim, que nem tu.
e essa moça passava paz pra todo mundo que cruzava o caminho dela.
assim, que nem tu.
.
.
.
e essa moça era tu."

mente calada, coração falante.

merece o registro

- vó, parabéns!!!
- obrigada, minha clarinha! senti sua falta hoje...
- pois é, eu estava trabalhando. vó, quanto anos você faz mesmo?
e ela, prontamente:
- 76!
- diminuiu dois, hein, dona marinette!
(gargalhadas de ambos os lados)
e a resposta de minha senhorinha:
- tem que ser. se eu falar a real, tomo até um susto!

05/07/2013

ecodela

vamos morrer,
é isso.
um dia esses olhos hão de deixar o corpo físico,
hão de ver as coisas de outra forma e,
quem sabe,
entender essa
(linda e louca)
experiência: vida.
vamos morrer.
e o que fazer pra não torná-la apenas passagem?
mergulhar nas letras?
nos livros?
se afogar em teorias?
se jogar em todo e qualquer...
todo o qualquer?
se entregar a quem...
a quem?! ao que?!
o que fazer, pergunto.
a ela ecoa.
oa, oa, oa.
a resposta pode ser viver,
mas é tão amplo,
vazio se torna.
e no vazio ecoa.
oa. oa. oa.

23/06/2013

laranja elástica, vai pra lá, vem pra cá,
doce, azeda,
em pés, em mãos,
sempre no mesmo lugar.
e toda essa mobilização lá fora,
alcança essa manifestação aqui dentro,
vou à rua.
pra que?
(pra que - mais que por que?)
seja pelo que for, vamos,
.
.
.
.
.
.
sem esquecer, não consigo terminar.

26/05/2013

bom dia, domingo.

essa paixão pela vida está me invadindo de forma avassaladora. coragem sempre foi minha companheira, e continuamos, ainda que com meu medinho escondido num fundo esquecido(?) da alma. escondido nada, mocinha! ali, bem exposto. tão exposto quanto o céu.
o céu está azul, com alguns desenhos de nuvens brancas, leves. o ouvido entupido desde o voo pra dentro de mim. talvez seja isso, meu corpo querendo me isolar do resto do mundo. faz sentido. é o momento de olhar pra dentro.
o sangue escorre, as lágrimas idem. o mar rebate, aberto e preso entre as veias por onde o fluxo deveria ser sanguíneo. ambiguidades que perseguem e inconstâncias permanentes. e a vida, continua me agarrando e me querendo, e eu a quero de volta, sempre, com toda intensidade, com toda alegria e sofrimento de se optar por jogar-se-me ao  encontro, atravessá-la, agarra-la sem deixar que me escape.
bom dia, domingo.

25/05/2013

viagens erupçadas, num pós vulcão

blefe, pra que te quero?
esse jogo de ser-não-ser, cansativo, angustiante. mentiroso.
... é.
mentiroso!
mentiroso? sei lá.
silencioso.
angustiante.
cansativo.
verdadeiro.
sentido.
bolo da madrugada. só nós. os ingredientes e eu.
e as músicas, claro.
como sem?
lembranças, memórias de massas integralmente misturadas por minhas mãos em tempos passados.
força, jeito, amor.
e o fermento era o grande mistério.
essa vontade de passar dos limites, indo além.
o bolo transbordava por entre as bordas,
subia até cair da demarcação imposta pelo tabuleiro.
a massa ficou grossa? será?
dúvidas emotivas transferidas para uma massa mole (ou semi mole) que, com o fogo, aquele mesmo que promove as mudanças, vira um sólido bonito e apetitoso.
algo que se transforma.
e a bacia onde os ingredientes se hibridam, recebe dedos diretos e língua indireta.
delícias da madrugada.
meta. como diz o poeta da mpb de gil.

29/04/2013

reflexões sobre uma transformação de outono

outono, a estação das folhas secas, das árvores desnudas,
a estação de renovação.
quem disse ser fácil descobrir-se das cores que enchem e acalentam?
e como ignorar o que há por debaixo?
(ou por cima!)
como ignorar a flor que dá na ponta do galho seco?
delicadezas da vida.
o olhar a natureza, que ensina e eleva.
transporta.
transborda.
e o medo?
ah, esse danado, que tensiona os ombros.
tira o sono, deixa num estado meio... stand by (?).
a espreita, de mim, do outro, da vida.
não, nunca tive a intenção de magoar ninguém alguém,
ninguém alguém: você, eu, todos nós, envolvidos nessa tal felicidade.
felicidade. pode ela difarçar-se por tanto tempo?
não, não acho.
somos felizes, fomos.
e sinceros.
sinceridade.
é esta a chave quando a felicidade se perde pelos caminhos da vida.
e é atrás dela que estou correndo.
não quero ultrapassá-la, mas acompanhá-la.
sempre. na vida.
a gente aprende a lidar com a dor,
a gente aprende a sentir o que se sente. e é isso.
não quero o medo que desestabilize, congele.
quero o medo do saber poder não ter sido aquele o caminho.
o quero por saber ser real, o quero pra minimizar os impactos da vida vivida.
o quero por prevenção.
não por deixar de viver.

- ai, que medo!

voltemos ao outono,
será que ele sente medo?
não, não deve.
pelo simples saber que virá o inverno - tempo da maturação da nudez, de recolhimento e friozinho,
a primavera - tempo de florescimento, de cores, de vida transbordante,
e o verão - tempo de luz, força, calor, intensidade da vida.
não, não deve sentir medo.
pelo simples, saber-se outono.

22/04/2013

realidade 
(real + -idade

s. f.
1. Qualidade do que é real.
2. Existência de facto.
3. O que existe realmente; coisa real.
4. Conjunto de todas as coisas reais. = REAL


essa palavrinha tem me incomodado (talvez pelo excesso do não-olha-la, ou...).

tão fácil relativizar esse conceito.
afinal, o que é real? o que sentimos ou o que é, de fato?
mas o ser não está repleto de sentidos e significados que a ele agregamos?

sei lá, não crio  teorias, só vivo.
(ok, menti. eu crio teorias, muitas. e vivo.)


16/04/2013

pal,
avra,
ava,
pava,
lapa,
a
p
a
lavra,
lava,
vala,
pala.

ela e eu,
elo nosso.
me esconde, me acha,
traduz,
debocha.
faz rir, me trai.
amor e ódio.
yin yang.
preto no branco, branco no preto,
somos um,
dois,
somos sem ponto final,

palavras restritas a um pequeno vocabulário.
não que já tenha sido maior, mas também não se restringia a tão pouco.
.
.
pontos reticenciais conectam uns aos outros.
o invisível,
não por isso não-notável.
...
(entre as reticências cabe dizer que invisíveis podem ser as melhores coisas da vida)
...
na vertical ou horizontal.
quero a conexão.
.
.
.
berço do samba,
cadê minha música?
...
quero as reticências e as conexões, as músicas e as cervejas.
os amigos e o amor.
a paixão e a canção.
.
.
.
quero a noite e o dia.
o mar e o rio.
estar entre, sem ter que escolher.

15/04/2013

abril despedaçado

o que me salta e me rasga no atual momento é tão diferente do que eu gostaria que esse corpo e mente expurgassem!
a escrita anda calada, as leituras, erradas.
os sonhos abafados pela necessidade constante desse dia-a-dia adulto. um acordar-enfeitar-trabalhar-não gostar (o contrário, de vez em quando)-voltar-comer-dormir. só há tempo de reproduzir... ser o que, além dessa máquina que funciona diariamente do mesmo jeito t-o-d-o-s-o-s-d-i-a-s? ser afastada do amor, aquele por quem prezo tanto, aquele que anda doente e concentrado em si mesmo.
andamos doentes, meu amor. e isto é fato.
vamos nos curar, precisamos. 
necessito aprender que a rotina pode ser suave, doce. mas preciso amá-la antes. no momento só consigo executá-la e sentir isso que chamo de cansaço. e não sei se essa nomenclatura se encaixa ao que sinto, ao que me angustia. mas sinto e busco palavras para traduzir. preferia não pensar, não sentir. manter aquela felicidade constante e companheira. comprei uma árvore da felicidade numa tentativa de mantê-la por perto. pequenas representações do que gostaria de estar sentindo.
mas entendo também que cada dia traz um novo aprendizado e que muitas coisas vividas e passadas só fazem sentido entre o estar acordada e dormindo.
entendo que não posso suicidar certas escolhas, largá-las prematuramente. cada experiência precisa ser vivida até o fim. sabendo que tudo que começa acaba. preciso aproveitar os momentos, torná-los bons companheiros.
tornar-me boa companheira de mim mesma.

25/03/2013

nós quatro

Quarto, quadrado, duas duplas, dois homens, duas mulheres. Duas mães, uma pai. Um pai?
Quatro filhos de um mesmo progenitor. Quarteto marcado pela mesma ausência. Inúmeras as explicações, única a cicatriz. Como lidar com ela é o que os diferencia. Mas afinal, como lidar com a dor presente da ausência?
Há de não ser radical este caminho, há de não ser complacente. Há de se ter compaixão. Certamente o caminho mais sábio. Acumular rancor? Estou fora, completamente! Mas não se pode esquecer do mau uso feito dos filhos. O uso dos filhos para conseguir o que se quer. Abuso. Não se usa criança para isso.
Mas um pai amoroso, também, além.

24/02/2013

chão de confetes numa manhã ao som de crianças nas ruas.
manhã de retorno, cores e sonoridades.
caminhos que seguem soníferos. caminhada que chega a que lugar, além de um corpo dito saudável e modelado ao padrão imposto? finda folia, resta... o que? musicas sobre o fim, talvez.
o fato é que a vida está cheia de vida, as ruas, os espaços vazios, tudo anda cheio de... imagens.
sentimentos,

exercícios de criatividade

É.

Talvez fosse aquele o momento da solidão e inquietude combinadas e necessárias ao ato de recomeçar a criar. Sabia que estava afastada disto que era tão seu, esse movimento repleto de cargas desequilibradas, de vida, de dores, de cores, de beleza.

-  Escrever. Por que tão fácil nuns momentos e tão complexos em outros? Saria a nova idade que se aproximava? – pensava, pensava e girava. Num ágil 360º, voltava ao mesmo lugar.

Era o cansaço, talvez. O cansaço de bancar saber-se ser, quando desconhecia sua mínima composição. Ou era mesmo a falta de vocabulário.

(Tinha pensado em usar “inspiração” ao invés de “vocabulário”, mas respirava, inspirava a cada novo passo. Mais que isso, via e sentia a cada novo passo. Via os meninos no primeiro dia de aula, vestidos com uniforme da rede municipal chamando uns aos outros, mãos dadas com suas mães pelas ruas. Observava a alegria nos olhares daqueles universos que se apresentavam em pequenos e gorduchos corpos. Via os confetes nas ruas, denunciando a folia recém vivida. Enchia-se de vida.)

É, não era isso. Definitivamente, não era falta de inspiração.  Era a dificuldade de casar palavras, sem repetir-se, como sempre fazia. Organizar palavras tornava-se tarefa árdua, sobretudo quando se comparava aos outros, pior, a si mesma em outras épocas. Lembrou que quando foi buscar uma água pra tentar retomar a sobriedade, encontrou um Leminsk gritando na porta da geladeira: “abrindo um antigo caderno foi que eu descobri: antigamente eu era eterno”. E o que fazer diante de tamanhas genialidades, se não emudecer? E caímos de novo naquela velha história do pudor e compaixão, não é mesmo? Compaixão por si. Um belo aprendizado, para um pulso que ainda pulsa e uma cabeça que lateja.

Perdeu-se, escorregou pelos pensamentos, que, por sua vez, lhe escorriam por entre os dedos entreabertos sobre o negro teclado. A caixola atrofiava-se e, sem que se percebesse, voltava a escrever. Não se deu conta, impedida pelo medo petrificante de não ser aquilo que queria ou que achava que era, ao passo em que já estava sendo. E já não estava mais pedindo socorro porque aquela era sua cura. Escrever qualquer coisa que a cabeça teclante e os dedos pensantes a obrigassem a expurgar.

Foi com tudo, preencheu a página. Desnudou-se, jogou-se, mas não declarou-se. Por enquanto, livrar-se daquela necessidade era o que lhe tomava a energia. Livrar-se para ter outra vital necessidade, da qual também se livraria para dar lugar a uma nova e assim sucessivamente. E recordou outra frase, agora do filme Leopardo, que fala que é preciso mudar para que tudo fique no mesmo lugar. Pensou que acabara, mas nunca se acaba, tolinha. Sabia que não acabara, mas ombros destravaram e a boca esboçou uma abertura, insinuando certo sono. Deu um primeiro passo e foi dormir.

25/01/2013

fantasmas de meio século

Cheguei em casa, ontem a noite, e uma festa surpresa em família saudava meu meio século vivido. Ô, delícia(!) por todos que ali estavam para celebrar a data comigo e, ô, preguiça(!) pela necessidade de espalhar sorrisos e atender a todos num momento em que só pensava em ficar quieto, olhando o que passou e entendendo o que anseio para os próximos cinquenta anos. O espaço é amplo, deu para os (quase) trinta convidados, se espalharem a vontade pela sala festiva, cheia de balões e retratos. A noite foi passando ao som de bossa nova e de burburinhos provocados por conversas mil. Muitos não se encontravam há mais de dois anos e as atualizações estavam pendentes: o priminho que passara no vestibular, a avó que perdera a melhor e pouco mais jovem amiga, as viagens de uns ao interior do país, de outros ao exterior… essas coisas de família. Não, não. De família não. De gente que se ama e se encontra pouco (ou que se ama porque se encontra pouco). Presentes também estiveram as narrativas de memórias diversas dos que me acompanharam na jornada, histórias daquelas em que um contradiz o outro por, cada qual sob seus singulares sentidos, ter vivenciado o mesmo fato. Lá pelas tantas, após alguns copos de cerveja, comecei a olhar as fotos e, de uma maneira meio transversal, experimentei parte do que queria naquela data de balanço da vida, revivi as histórias através das fotografias, uma por uma, numa linha que nada tinha de cronológica. Gostosa sensação de nostalgia.
Todos se foram, as fotos ficaram de presente.
A bagunça também.
Fui dormir, mamãe já havia convocado sua faxineira para limpar os resquícios da noite marcante.
Não sei exatamente por que, talvez pelos estímulos da noite passada, mas hoje de manhã acordei com a imagem daquele momento que me introduziu na sensação de derrota ou, mais que isso, me trouxe à luz da consciência este meu, por anos a fio, sentimento parceiro. Estranho… a foto não era das que estavam penduradas na parede porém foi a imagem que me acordou e acompanhou em cada minuto do dia. Para mim sempre foi claro que o registro do qual fujo, simbolizava a grande dor de, pela primeira vez, não ter sido o primeiro. Eu, filho, neto e sobrinho único por quase toda a infância, deparei-me com a realidade de abrir mão dos ganhos para que terríveis rivais ficassem com o que (eu achava que) era meu. Não sabia mensurar o tamanho da dor que perder aquela prova de natação representou para mim. Lembro exatamente do dia, estava cinza como hoje e, eu, logo ao acordar, corri para a cama de meus pais, eufórico com a prova, tão esperada prova. Tudo foi mágico até o fim da competição, quando levantei a cabeça da água e percebi que tinha chegado atrás de outros três. Gosto amargo da sensação de derrota, ainda que em cima do pódio, ainda que com o troféu na mão. Anos mais tarde, na passagem da adolescência à vida adulta, este sentimento companheiro levou-me ao consultório de minha analista. Entre idas e vindas, os anos de trabalho fizeram com que eu, o grande eu, compreendesse muitas coisas relacionadas a este e outros fatos. Contudo, o eu, pequeno eu, insistia nas perguntas que já havíamos respondido de diversas formas e por inúmeras vezes. Naquela manhã, perguntei-me se não havia superado o episódio, quando na verdade, sabia que o buraco era mais fundo. Agarrava-me a ele para justificar meus medos de perda e de incapacidade. Pelos receios, tornei-me alguém solitário. Cordial, após a temporada de terapia, mas sozinho. Era chegada a hora de olhar de verdade pro que fui, pro que sou.
Serei?

Texto sobre uma das imagens do banco exibido no terceiro encontro.

A imagem: um menino, um pódio, um troféu, uma tristeza.
Engraçado é que o escrevi na quarta-feira e, ontem, várias coisas me levaram a ele.

Clara