04/12/2022

nasci branca

eu nasci branca,

branca, clara.

não alva,

nunca alvo.

não pela pele ou traços.


eu nasci branca.

para um país racista,

sou privilegada.

não quero ser preta.

não consigo me pensar

a branca mais preta do brasil,

como já andaram fazendo por aí.


eu nasci branca.

e isso não quer dizer que não me identifique

com a cultura ancestral que resiste nas veias,

no músculo que o sangue bombeia.

não quero ser preta,

porque não sou preta.

não sei e nunca saberei.


porque nasci branca.

numa família em que a história

foi contada por quem colonizou.

por quem executou, 

pelas mãos que autorizam

que o genocídio siga em curso.


eu nasci branca.

sei o que é ter privilégio.

levar vantagem sobre corpos outros

é o que a cor da minha pele e meus traços permitem.

dou nome a ele,

para que não esqueça

que ser branca é sinônimo de ter privilégio.


precisamos quebrar essa pacto subjetivo

da manutenção de privilégios.

porque eu nasci branca e eu quero que pretos 

saibam o que é circular sem medo.