03/05/2011

Permita-se

Jogando cartas em dupla com meu irmão em um sistema online, me deparei com algo que, naquele momento, me confundiu. Estávamos no mesmo quarto, eu em um desktop e ele em um notebook. Às vezes olhava o jogo dele para ver as jogadas que poderíamos fazer, mas não entendia muito bem que no computador dele, a posição que ele ocupava era a mesma que eu ocupava no meu, então, imaginava suas cartas como minhas e me esforçava para lembrar de jogos que eu não tinha planejado. Em vão, claro. O jogo era dele.
Muitas questões me surgiram a partir desta simples situação. A mais gritante, não fugindo ao que imagino que você esteja imaginando, é a em torno do olhar sob um ângulo diferente. Quão incrível se torna ver o mesmo jogo sob um ângulo completamente distinto! Mas é um exercício difícil, pois é preciso estar desconectado de si(?), do seu centro como centro universal.
Não sei se a última frase exprimiu exatamente o que eu quis dizer, inclusive porque a lendo descolada do contexto, soa bastante controversa com meus pensamentos e convicções(?) dos últimos anos. Mas o que somos se não seres em mutação e, por isso, contraditórios? É uma relação meio esquizofrênica, na verdade: ao mesmo tempo em que você deve ter consciência de si e, normalmente, precisa estar centrada no seu eixo, não pode deixar de praticar o olhar de forma diferente. Diferente da maneira como se olha frequentemente, diferente do que acredita ser o único meio de se ver, por ser seu.
Escrevendo me obrigo a refletir e percebo que aqui, no espaço em branco em que as idéias se tornam palavras, frases, parágrafos, não é tão esquizofrênico quanto parecia ser inicialmente. Talvez essa realação siga a mesma lógica do ser feliz, mas estar triste. O que quero dizer é que, talvez, existindo um centro, ou melhor, existindo a consiência do que se é, se pode experimentar ser outros em determinados momentos. É como andar no Centro da cidade tendo alguns bons pontos de referência: você anda, anda, experimenta o pavor de estar perdida, mas quando menos espera, encontra um porto seguro, o ponto de referência.
O difícil, no entanto, ainda é conseguirmos nos dar a chance de experimentar o olhar diferente, ainda que num mundo em que seja permitido experimentamos ser todas, muitas, diversas.

Um comentário:

Murdock disse...

Sei lá, acho que estou muito acostumado a tentar ver tudo pelos olhos de outra pessoa, me colocar no lugar dela. Não que isso dê certo e eu acerte sempre mas é quase sempre. Infelizmente, às vezes...