26/03/2012

da série "cenas urbanas"

segunda-feira de sol e muito calor no rio de janeiro. uma maravilha para os que não trabalham e podem ir à praia, um tormento pra quem pega ônibus lotado. a cidade arde, queima, e apresenta um trânsito de deixar qualquer são paulo pra trás.
eu, num ônibus que liga a zona norte (quente por natureza) ao centro (idem).
passando pelo túnel que conecta o catumbi à praça da cruz vermelha, avisto um sujeito sem camisa, com uma calça que não sei bem se jeans e uma sacola do supermercado mundial na mão.
num misto de medo e curiosidade, olhava intrigada o que o rapaz, parado próximo a uma goteira, fazia com a sacola - que agora estava apoiada sobre um muro (ou qualquer coisa que o valha).
tirou dois objetos da bolsa plástica.
cada vez mais intrigada, segui olhando.
dois jatos de água caiam do teto e, finalmente, identifiquei o que o rapaz sacara: uma escova e uma pasta de dentes. na maior naturalidade, como quem está no banheiro de casa, pôs a pasta na escova e começou a limpar os dentes. de repente, se meteu sob a água e banhou-se.
não sei ao certo o que senti.
surpresa, sem dúvida.
inveja, pelo frescor que aquela água - ainda que suja, proporcionava naquele momento em que minhas pernas e costas marcavam o banco de suor.
compaixão pelo apelo do sujeito, que fez daquela água suja sua ferramenta de higiene pessoal.
interesse e algum sentimento que a palavra se esconde, pela criatividade em - como diz o ditado popular - fazer do limão, a limonada.

Um comentário:

Murdock disse...

Às vezes observo algumas cenas, pessoas, menos inusitadas do que essa, e fico tentando imaginar a história delas, de onde vem, para onde estão indo.

De resto, não aguento mais esse calor.