29/10/2025

28 de outubro de 2025

massacre.

chacina.

mais uma,

nessa cidade que dizem maravilhosa.

nasci no suburbio, nunca tive dinheiro sobrando.

família assalariada. 

mas branca, moradora do asfalto.


é privilégio, sim.

vivemos em uma cidade em que ter o básico é ter privilégio.


a distância entre o asfalto e a favela não é física.

falam da favela como um espaço de "lá".

deles, não nosso.

a tv fala pra gente, povo branco.

morador do asfalto.


enquanto isso, pessoas morrem sob um discurso de segurança.

segurança pra quem, quando pessoas morrem sem nome?


saber que 64 pessoas morreram pelas mão do governo,

64 quatro pessoas que os jornais não nomeiam,

e achar isso normal.


me sinto lenta, leio vejo,

trabalho na favela.

ainda assim, demoro a reconhecer os códigos,

mas quem vive a violência cotidiana identifica de longe.


a gente trabalha,

insiste em ter fé na mudança.

nada contra a maré pra reduzir desigualdades.

mas a qualquer momento a desumanização de pessoas que moram em favelas é esfregada na nossa cara.

e nos lembram quem, nessa estrutura, tem o poder.

29/07/2025

 meu tempo é ser

entre o que escrevo e o que vivo 

o que traduzo em palavras

e o que leio do mundo

há uma grande distância

já não penso forma, métrica

busco o que me centra 

mantém de pé

organiza minha existência

com raivas

amores,  danças, sabores.

transcorro, 

tal qual as letras transcorrem sob meus dedos ligeiros,

pela vida.

sinto frio, imunidade baixou,

a gripe chegou.

e eu me canso de falar 

o que não precisa ser dito

meu tempo é ser

meu tempo é sentido


07/07/2025

processo

insistir ou desistir?
lutar para caber?
dar forma a outro ser?

o que quero com isso?
insisto, arrisco.
me canso.

mais um pouco,
insisto, arrisco.
nos canso.

cansada dos nós que não atei,
e tomo a luta pra mim,
como questão de honra.

não sei como acabar esse escrito
porque me embolei nas águas 
que minhas não são.

não quero lutar, insistir,
me perder assim de mim.
eu quero encontrar meu caminho para seguir.

15/05/2025

ciranda dos dias

 fui dormir de cabelo molhado,

o cabelo acordou incrível.

eu, às 4h11, não.

mas a vida seguiu,

a cabeça girou em soluções.

consegui resolver o imediato.

mas e o por vir?

a angústia toma o corpo.

preciso produzir,

preciso produzir,

preciso receber, tenho que dar conta.

o dinheiro não vai dar.

preciso rumar novos caminhos.

cadê?

o corpo toma a angúctia pra si.

deixo de sentir.

coloco musicas que não sei letras,

e nem quero saber, entender.

quero sentir.

qualquer coisa que não seja ruim.

sufocada por tantas emoções,

não consigo dissolver a raiva.

quero respostas agora,

apagar o que passou.

olhar pra frente,

pr'um horizonte que possa ser redesenhado.

viver é coisa difícil,

mas insisto.

persisto.

ainda vejo beleza,

me alivio.

coloco músicas que desconheço.

em idiomas que não domino.

resisto.

e sigo.

mais um dia.


14/04/2025

fim

 depois da raiva, a tristeza.

abro caminho, 

deixo ela chegar.

chega pelas águas que escorrem no rosto.

é muita, não represo. 

o coração bate, 

pesado, num ritmo que desconheço.

tento respirar fundo,

as vias entopem, sei que o ar passa.

sei porque sigo viva,

não porque sinto.

só consigo sentir essa dor que vem sei lá de onde,

pesa no corpo.

chorei com filmes,

são companheiros certeiros pra essas ocasiões.

chorei com sons.

e com lembranças de tudo o que

poderia, deveria e conseguiu

ser.


o dia começou chuvoso.

abriu em sol.

confio.


o choro vem

e deixo escorrer

abro caminho

pro sorriso seguir.

26/01/2025

insuficiência

falta ar pra dar conta de tudo o que se vê

de tudo o que se sente


o agora

nem sempre presente


seguimos em fluxo

nele o por vir se apresenta


com o que você se contenta?