29/10/2025

28 de outubro de 2025

massacre.

chacina.

mais uma,

nessa cidade que dizem maravilhosa.

nasci no suburbio, nunca tive dinheiro sobrando.

família assalariada. 

mas branca, moradora do asfalto.


é privilégio, sim.

vivemos em uma cidade em que ter o básico é ter privilégio.


a distância entre o asfalto e a favela não é física.

falam da favela como um espaço de "lá".

deles, não nosso.

a tv fala pra gente, povo branco.

morador do asfalto.


enquanto isso, pessoas morrem sob um discurso de segurança.

segurança pra quem, quando pessoas morrem sem nome?


saber que 64 pessoas morreram pelas mão do governo,

64 quatro pessoas que os jornais não nomeiam,

e achar isso normal.


me sinto lenta, leio vejo,

trabalho na favela.

ainda assim, demoro a reconhecer os códigos,

mas quem vive a violência cotidiana identifica de longe.


a gente trabalha,

insiste em ter fé na mudança.

nada contra a maré pra reduzir desigualdades.

mas a qualquer momento a desumanização de pessoas que moram em favelas é esfregada na nossa cara.

e nos lembram quem, nessa estrutura, tem o poder.